Apreciação final: 7/10
Edição: !K7, Setembro 2006
Género: Electrónica/Pop Alternativa
Sítio Oficial: http://www.dani-siciliano.com
Edição: !K7, Setembro 2006
Género: Electrónica/Pop Alternativa
Sítio Oficial: http://www.dani-siciliano.com
Já não é inconfidência para ninguém dizer-se que Dani Siciliano tem sido a substância vocal de Matthew Herbert. Além do vínculo conjugal que os une, a associação criativa que nos deu Around the House (1998) ou Bodily Functions (2001) foi o testemunho acabado de uma certa interdependência artística cujos proventos assumiam um duplo juízo. É incontestável o mérito da parceria na multiplicação da simbiose de processos, permitindo a combinação certa entre uma electrónica iconoclasta (a de Herbert), de timbre minimalista mas cheia de soberba na resistência aos cânones, e o ímpeto vocal e sensualidade de Siciliano, suplemento infalível para somar traços de laconismo à orbe onírica de Herbert. Ao flanco frio e maquinal de Herbert, mestre nos malabarismos técnicos com as medidas temporãs de um protótipo funk mínimo e futurista, se juntava o revestimento orgânico versátil e contemporâneo da voz que, sem restringir os seus ângulos vanguardistas, puxava a música para uma geometria de excesso contido. Pontos de equilíbrio, assim se diriam as intersecções conceptuais de Herbert e Siciliano. Ao mesmo tempo, de tão ajustada combinação se presumem ecos sobre a individualidade artística das partes, ilação particularmente evidente no percurso individual de Siciliano; se Herbert não se impediu de lançar discos sem os préstimos da mulher, sublimando a condição exploratória do seu som, Siciliano chegava, na antecâmara do segundo exercício do trajecto em nome próprio, a uma encruzilhada determinante. Em Likes... (2004), registo de debute, a candeia de Herbert alumiava ainda alguns dos trechos e sentia-se, mesmo que nesse remoto estatuto de co-autoria, que a insígnia do marido estava presente. A bem da emancipação artística de Siciliano, ela própria possuidora de recursos nobres o bastante para lhe valerem independência de per si, talvez se impusesse uma afirmação de personalidade que Slappers não dá.
É certo que as síncopes de Slappers mostram algumas hábeis supressões da assinatura costumeira de Herbert, distanciando a vibração das faixas da primeira expectativa do ouvinte, mesmo que não fique camuflado o cardápio de maquinações Herbert (ele é co-autor de todas as peças do alinhamento). Nesse capítulo, de resto, Slappers é de um requinte a toda a prova, vem munido de talhas das várias propensões electrónicas e serve-as na dosagem perfeita. Com a ajuda de um amigo digital cheio de vantagens, o sampler. Slappers talvez não suplante os alvitres da estreia, tampouco se isenta da sombra de Scale (exercício sublime de Herbert previamente lançado neste ano) e, a despeito de alguns instantes plenos de inspiração, mostra-se experimental demais para chegar à voga pop e menos coeso para se fazer obra-prima técnica. Ainda assim, mesmo que não seja possível escrever sobre um disco de Siciliano sem lançar mão do nome de Herbert, o álbum traz um jogo de manobras suficientemente atraentes para valer uma boa escuta e ser um produto interessante.
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