sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Cat Power - The Greatest

Apreciação final: 7/10
Edição: Matador Records, Janeiro 2006
Género: Folk/Pop Alternativo
Sítio Oficial: www.catpowerthegreatest.com








Chan Marshall esconde-se por detrás do pseudónimo Cat Power há trinta e três primaveras e, ao sétimo longa-duração de um trajecto seguro no circuito indie - onde merece honras de reconhecimento generalizado - parece buscar a emancipação desse género músical. Para tal fim, fez uma manobra de risco: rodeou-se de um corpo de músicos de elite (entre eles o guitarrista Mabon Hodges e o baterista Steve Potts, parceiros artísticos de Al Green e Booker T, respectivamente) e cobriu os vazios e os silêncios que frequentemente compunham a sua idiossincrasia musical com nacos da mais fine estirpe instrumental. The Greatest é, portanto, um produto tecnicamente maduro, com um som nutrido e íntegro e que vinca uma reviravolta estética de Marshall. Dos esparsos exercícios solitários em que a voz se confiava apenas aos tricotados de um piano ou aos arpejos de uma guitarra, ficam as sombras. Marshall acolhe, neste álbum, um registo mais orquestral e preenchido, qualquer coisa que a afasta definitivamente das conotações pós-grunge do passado e que assume, de corpo inteiro e formas naturais, um propósito melancólico distinto, algures entre o modelo blues, a incerteza do pop jazz e um traço vago da tradição country americana. Os impulsos contradizem a espontaneidade da introspecção avulsa do belo Moon Pix (1998), ou mesmo de You Are Free (2003), mas a escrita de Marshall retém o charme intimista de sempre, à custa de uma voz de veludo quente - daquelas que geram arrepios pele de galinha - e docemente desarmante. É certo que o traje musical traz medidas não consideradas antes por Marshall e se dissipou um quinhão importante do acanhamento meditativo (desilusão para os adeptos dos primeiros discos?), mas a honestidade no desbravamento da melancolia permanece intocável, como se a pacata musa do underground se tivesse feito, finalmente, a faloa de eleição dos amores perdidos do Memphis.

The Greatest é o (re)encontro de Marshall com as raízes, em ritmos e sabores diferentes, comparáveis aos finais da década de 60 e à mais pura memória da música americana, num jeito que não envergonharia Sam Cooke ou Willie Mitchell e que forja as primícias de outra Cat Power. Afinal, sem os rabiscos indecisos de outros discos, o autógrafo dela mantém-se, mas reveste-se em harmonias diferentes e em canções com mais corpo. Com um discurso diferente, The Greatest é um manifesto de afectos - mesmo para os fãs nostálgicos da catarse misantrópica que Marshall tão bem desenhou noutros momentos - e confirma o crescimento artístico de Cat Power. A menina envergonhada cresceu e já vai sozinha à mercearia...

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