Apreciação final: 8/10
Edição: Matador, Janeiro 2006
Género: Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.belleandsebastian.com
Edição: Matador, Janeiro 2006
Género: Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.belleandsebastian.com
A música actual dos escoceses Belle & Sebastian é peculiar. Os rasgos de inspiração vêm de origens diversas e acolhem os formatos genéricos da pop, as ondulações verbalistas do rock'n'roll e os propósitos independentes do universo indie. Apesar disso, eles não se grudam a nenhum desses rótulos e, ao sétimo longa-duração, mantêm os mesmos malabarismos que, em início de carreira, lhes renderam o respeito da crítica. Se isso não bastasse, o espectro emocional das canções dá uma ajuda, deixando entrever alguma ambiguidade psíquica: os conteúdos melancólicos das letras são servidos por melodias brilhantes, com cadências rítmicas contagiantes e dignas de embalarem as tardes mais solarengas de dias de Verão. E é também aí que reside a magia dos Belle & Sebastian. O colectivo escocês consegue colorir os desgostos mais profundos, sem lhes subtrair o ónus introspectivo e força-nos ao mais cativante dos exercícios psicanalíticos, seduzindo-nos o ouvido, primeiro, e a mente, de seguida. Depois, há uma viragem decisiva (já tentada em Dear Catastrophe Waitress (2003)): as composições não trazem disfarces, exibem-se em tons de um optimismo tangível, seja pelas sinergias entre músicos, seja pelo primor festivo da produção de Tony Hoffer (lembram-se de Midnite Vultures de Beck?).
Definitivamente há algo diferente em The Life Pursuit. A voz de Stuart Murdoch está mais calorosa e encorpada, como se buscasse uma identidade desconhecida (já ensaiada no disco anterior), nos mesmos trejeitos da música que a embala, além das sombras do passado. O corpo musical é, também ele, uma revelação. O denominador comum às treze faixas do alinhamento é a versatilidade, acomodando o traço tradicional do grupo a uma estética distinta, feita de memórias do rock da década de 70, dos Smiths, dos Beach Boys, de Stevie Wonder, do glam, do funk. No final, The Life Pursuit é pura pop, mesmo que trajada de balada, de surf music ou rock'n'roll. E quando se trata de fazer boa pop - seja ela mais sorumbática ou, como aqui, mais arrebatada - o selo dos Belle & Sebastian continua a surgir à cabeça dos protagonistas de eleição. E The Life Pursuit não passará indiferente por 2006.
Posto de escutaProcure na grafonola as faixas "Another Sunny Day", "White Collar Boy" e "For The Price of a Cup of Tea"
5 comentários:
Não concordo nada com essa critica. Acho mesmo dos mais desinteressantes discos dos Belle & Sebastian
São opiniões e gostos.
Já diz o povo que nessas coisas da subjectividade não há lugar para juízos de valor. Cada um guarda os seus. E todos têm idêntica validade, não é?
Bem dizer isso é cair na velha máxima de que os gostos não se discutem. Eu acho o que os gostos se devem discutir! Isso aliás que está a dizer, entra em contradição com a própria condição deste blog, que me parece um excelente instrumento de discussão saudável do gosto. Mas isto é apenas o "juízo subjectivo do povo".
Eu também acho que os gostos se podem discutir. Mas acaba por ser inevitável que a discussão se torne vazia porque os protagonistas não negarão, conscientemente ou não, o gosto que inatamente os inclina para apreciar este ou aquele produto artístico. No caso em apreço, ainda bem que considera isso do blog. Esse é exactamente um dos princípios que norteou a criação deste espaço: a discussão saudável.
E, indo por aí, eu mantenho que o disco é um trabalho maduro de um banda que sempre soube acomodar o seu som a cada contexto temporal específico e que, desta vez, expõe confortavelmente as suas virtudes pop de sempre, buscando cores inauditos para a melancolia. As composições são versáteis, tecnicamente irreprensíveis e a identificação entre os músicos resulta com espontaneidade. Diria que, a despeito de trabalhos bem conseguidos no passado, o som dos B&S atinge neste The Life Pursuit o brilho próprio dos conceitos esculpidos na paciência do tempo que, sem erodir as máximas teóricas que os escoceses subscrevem, revigora a expressão emocional do grupo. E isso é, para mim, independentemente de os B&S até nem sequer integrarem o lote de músicos da minha predilecção, um sinal inequívoco de uma banda que, sem ser calculista, sabe criar um espaço sonoro equilibrado, consistente e, acima de tudo, com o doce eclectismo do agrado dos mais nostálgicos. Para mim, The Life Pursuit é um excelente exercício e merece a nota que lhe dei. E, nesse aspecto, até usei de mais brandura na avaliação do que outros colegas que, como eu, fazem crítica nos media nacionais. Veja-se o 9 com que o disco foi presenteado no Blitz...
Está aberta a discussão.
Saudações musicais.
Devo confessar que dei uma segunda opurtonidade ao disco. Concordo, acho que é um disco pop tecnicamente irrepriensivel. Mas será que isso basta? Acho que não. Parece-me um bom exercicio (académico, talvez) dentro da tipologia pop, mas que peca, no meu ponto de vista, por excesso. Percebo a atitude pós-moderna de parodia a uma linguagem, mas que por vezes roça um kitsch quase insopurtavel. É portanto um disco bem feito, mas sem frescura: é forçado e calculado. Como alguém dizia, o Sublime está normalamente sob uma fina camada de pó que é o ridiculo. E este disco tenta por vezes ser sublime mas é muitas outras ridiculo.
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