quinta-feira, 10 de março de 2005

Madredeus - Faluas do Tejo

Apreciação final: 7/10
Edição: EMI, Fevereiro 2005
Género: Fado Sinfónico






Os Madredeus retomam no novo trabalho a adoração da cidade de Lisboa, na linha do que haviam feito com Ainda, editado por ocasião do filme Lisbon Story do cineasta Win Wenders. Faluas do Tejo é, antes de mais, uma digna ode à capital nacional e cujas raízes se inscrevem na mais profunda tradição musical portuguesa, aqui como que revisitada com o tempero da urbanidade moderna, em nostálgica contemplação do fado clássico. As composições não fogem ao feitio típico do colectivo, embora assumam um vigor criativo substancialmente distinto de Um Amor Infinito (2004), resultante das mesmas sessões de gravação. A voz de Teresa Salgueiro é refulgente, como sempre, Ayres Magalhães e seus pares secundam-na com propriedade. Mas isso vem acontecendo há anos na carreira do ensemble lisboeta. E é esse o principal desafio dos Madredeus: resistir à tentação de recorrer ao precioso ajutório do piloto automático, agora que o grupo leva a sua carreira numa aconchegante (e potencialmente negligente...) velocidade de cruzeiro que resulta da maturação criativa e da afirmação de um estatuto. Não se pense que Faluas do Tejo não está à altura dos Madredeus. Certamente está e esse é o seu maior vício: limita-se à condição de alinhado com um contínuo traço de rumo que os Madredeus vêm desenhando e que com apatia (consciente?) não se esforçam por reinventar. Mantêm-se as deambulações musicais que convertem o fado a uma amplitude quase sinfónica, sem lhe subtrair um mílimetro de intensidade emocional.

Faluas do Tejo é um tributo sincero dos Madredeus à sua cidade; é capaz de incutir as costumeiras sensações divagantes no ouvinte mas não vence o agastamento de perceber a acomodação do grupo ao espaço sónico que o celebrizou (justamente) e a consequente evolução na continuidade que, afinal, para músicos do calibre destes, é a asseveração última de letargia na criação, a derradeira involução. Faluas do Tejo é um documento oportuno na carreira do mais internacional projecto musical português, mas não seria de esperar um pouco mais?

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