quarta-feira, 9 de março de 2005

4 discos em 4 parágrafos


Apreciação final: 6/10
Edição: Hefty, Janeiro 2005
Género: Pós-Rock/Electrónica Experimental






L'Altra - Different Days
Oriundos de Chicago, os L'Altra são sonhadores. O som típico do colectivo americano encaixa na definição de um experimentalismo electrónico com nostalgia da dream pop, num registo as mais das vezes minimalista, com ritmos tardos e atraentes. A simplicidade é nota dominante do disco, sempre com arranjos pertinentes, num álbum harmonioso que toca os temas da solidão e do isolamento com uma lisura assinalável. Depois, a voz é a protagonista maior da envolvente emocional do álbum, interrompida pontualmente por momentos musicais intensos, de amplitude cinematográfica. A intimidade do registo não é beliscada, o mérito maior do disco é confinar-se a si mesmo e, no seio da própria quietude, deixar sintomas de redenção e catarse. Os momentos altos do disco, à falta de composições sublimes, acontecem nas sinergias vocais entre Lindsay Anderson e Joseph Costa. Different Days é triste sem deprimir, a força das palavras puxa-nos para um imaginário que vale a pena visitar.





Apreciação final: 7/10
Edição: V2, Maio 2004
Género: Indie Rock/Punk Revivalista






Icarus Line - Penance Soirée
Icarus Line é sinónimo de irreverência e rebelião contra convencionalismos. O espaço sónico em que se movem é dominado pelas reminiscências dos saudosos Stooges. Penance Soirée é libertinamente rock, em todas as formas e géneros, com um denominador comum: um som rude e cru, do princípio ao fim do disco. A produção minimalista sublinha a crueza do som do quinteto americano. Ainda que a similitude das composições penalize a criatividade do disco, a versatilidade dos Icarus Line é notória; eles são capazes de assegurar a mesma consistência em registo noise-rock, em tom pós-punk, até em toada grunge, aqui e ali com pitadas de industrial ou blues. Penance Soirée é um ataque sujo e desassombrado às regras do rock, tem alma selvagem e niilista. Divertimento assegurado.





Apreciação final: 7/10
Edição: Island, 1979 Re-edição: Koch, Fevereiro 2005
Género: Pós-Punk






The Slits - Cut
As Slits foram uma das mais significativas bandas punk femininas dos anos 70. The Cut foi originalmente lançado em 1979 e é agora re-editado pela Koch. Redescobrir o som das Slits é experiência única. A musicalidade quase amadora deste registo, algures entre o ska e o reggae, com vocalizações que se assemelham a cantos tribais dispersos e sem rumo não será do agrado de todos. Desengane-se quem espera um disco catalogável. Nada disso. O devaneio do grupo é tal que as composições jamais se apegam a formatos tradicionais, antes vagabundeam por diversos géneros, guiadas por vozes em teimosa conspiração contra-regras. A insanidade cativante deste trabalho e o seu espírito jovial e rebelde conferem-lhe nota máxima na originalidade. O valimento das composições está no invulgar véu de trivialidade que as cobre e que, afinal, é a derradeira barreira para a sua emancipação definitiva. Tiremos a mantilha às The Slits. Talvez um dia Tarantino as descubra.





Apreciação final: 6/10
Edição: SpinART, Outubro 2004
Género: Pós-Rock/Indie Rock






The Dears - No Cities Left
Canadianos. Pop-Rock elaborado, quase orquestral, maduro. Voz (Murray Lightburn) elegante. Produção cuidada. Amores perdidos, lamentos desolados, solidão, adeus. O mais recente trabalho dos The Dears é uma súmula de boas ideias desnaturadas à força do melodramatismo excessivo. Salva-se o esqueleto musical que se percebe além do dó nas palavras. Aí reside a força matriz de uma banda pop madura, consistente, capaz de momentos orgânicos airosos, a lembrar os Smiths. Esteticamente bom, liricamente hiperbólico, No Cities Left é apenas a sombra do disco que poderia ter sido.

Sem comentários: