Não deixa de ser sintomático de uma certa reafirmação artística que, depois da retoma mediática, no ano transacto, dos Sonic Youth (com Rather Ripped), um dos seus mentores tenha decidido resgatar os galões de compositor a solo. Em boa verdade, Thurston Moore não escrevia sozinho um disco de canções desde Psychic Hearts, registo com mais de uma década, embora se tenha entregado, além dos Sonic Youth, a uma série de projectos paralelos, casos dos Dim Star ou dos trabalhos instrumentais conjuntos com William Winant e Tom Surgal. Consagrado como um dos ícones improváveis do orbe indie e um eremita inquieto na hora de passar à canção as desventuras da vida, Moore encontra no espaço solitário deste Trees Outside the Academy a zona útil para sondar com mais propriedade as possibilidades acústicas da meditação. Trata-se, sobretudo, de um registo erguido em volta da guitarra acústica (nesse particular, fugindo dos paradigmas estruturais mais eléctricos dos Sonic Youth), da voz confessional, dos soberbos complementos do violino de Samara Lubelski e da percussão expedita de Steve Shelley. A estes companheiros de gravação, juntam-se as aparições pontuais de J Mascis (Dinosaur Jr.), Christina Carter (voz dos Charalambides, em "Honest James"), John Moloney (percussionista dos Sunburned Hand of the Man, em "Wonderful Witches") e Leslie Keffer, homem do ruído, a emprestar uma espécie de intermezzo breve em "Off Work".
Acústico na essência, apesar das inevitáveis presenças de fragmentos mais eléctricos, Trees Outside the Academy não é (nem terá sido pensado como tal) uma renovação de princípios; as orientações estruturais das composições são as mesmas que servem os Sonic Youth há um quarto de século e isso é, bem vistas as coisas, o melhor atestado de validade que pode fazer-se à música de Thurston Moore. E a pergunta que Moore colocava a si mesmo, aos treze anos, rusticamente registada na última faixa do disco, sobre o porquê de procurar (e gravar) sons casuais à sua volta, continua a ter réplicas impressivas hoje. Afinal, é essa verve fortuita que ainda lhe encaminha os dedos na hora de combinar acordes numa guitarra. Mesmo que ela seja acústica.
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