quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Joni Mitchell - Shine

5/10
Hear Music
2007
www.jonimitchell.com



Depois de uma longuíssima ausência (na altura, anunciada como uma retirada em acerbo desapontamento com a indústria discográfica) de quase uma década sem gravações - o último registo gravado, Taming the Tiger, é de 1998 - a canadiana Joni Mitchell é trazida de novo à ribalta pela mão da Hear Music. O crescimento da editora subsidiária da cadeia de cafés Starbucks - além de Mitchell, o "plantel" conta com outros veteranos consagrados, casos de Paul McCartney, Bob Dylan e Willie Nelson, por exemplo - é caso paradigmático do peso actual dos nichos "independentes" do mercado norte-americano e da emancipação de um conceito de edição musical adaptado às exigências da geração digital e, sobretudo, autónomo dos canais de distribuição das majors. Terá sido esse, de resto, o melhor pretexto para convencer uma Joni Mitchell cansada das editoras a desistir da deserção que anunciara em 2002. Assegurada essa autonomia face ao "inimigo" - o que, em paralelo, até serviria como uma espécie de desforra justiceira para Mitchell (embora as diferenças na filosofia mercantilista entre uma grande editora e uma empresa multinacional não sejam óbvias) - importaria perceber se o distanciamento de anos não tolheu a verve de uma das cantautoras-ícone da década de 70.

Sem rodeios: a voz não tem, nem poderia ter, o mesmo brilho de outros tempos. Shine mostra-nos um registo vocal competente, é certo, mas (muito) longe da cativante ductilidade e da chama entusiasta de outrora, antes revelando uma voz "poluída" e algo cansada - basta comparar a revisão de "Big Yellow Taxi" de agora com a original, de 1970. Depois, em termos orgânicos, o disco parece envolto na indefinição identitária que caracterizou o percurso da cantora, depois da aclamação como trovadora na década de 70. À inequívoca perda de peso mediático de então - o que a afastou dos grandes públicos que conquistara - juntou-se a afirmação das electrónicas da década de 80, um óbice para o som genuinamente acústico de Mitchell. A década de noventa tentou sanar esses prejuízos à custa de um refinamento pseudo-elitista - dir-se-ia próximo das órbitas do jazz-canção - que tem, agora, o seguimento natural. Liricamente ou musicalmente, Shine soma pouco mais do que trivialidades ao catálogo de Joni Mitchell confirmando que, como é natural numa carreira com mais de três décadas, o caminho para os mais inspirados momentos faz-se recuando no tempo.

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