Por mais selectivos que sejamos, a cada dia somos insistentemente bombardeados pelas massivas doses de informação veiculadas pelos chamados "canais oficiais". A despeito da serventia dessa comunicação, muitas vezes discutível - pelo menos do ponto de vista das motivações mercantilistas que lhes podem estar subjacentes - é normal que, a todos os níveis, escapem produtos valiosos ao "olho" dominador dos mercados. Felizmente, mesmo no orbe musical, nem todos os espíritos se rendem a essa visão necessariamente limitada e à correspondente cultura de conformismo das linguagens dominantes e partem à busca de artes deixadas à margem.
Foi com esse alento peregrino que Jack Carneal, admirador confesso da música feita no Mali, se mudou de armas e bagagens para essa república da África Ocidental; e veio a descobrir que, além das mediáticas criações de gente ilustre como Toumani Diabaté, Oumou Sangare, Ali Farka Touré ou Salif Keita - os "monstros" de exportação da música maliana - há um submundo musical nos caminhos pobres, longe das técnicas e revestimentos dos estúdios. Pekos & Yoro Diallo é música feita para embalar gentes passadiças e mercados de rua, com instrumentos (os ngonis electrizados, a percussão tribalista e a voz cavernosa) e ritmos de ocasião, e o dinamismo próprio do mais genuíno dos exercícios de "improviso". Tudo gravado com impolidez em rústicas cassetes perdidas no tempo, agora compiladas pelo selo Yaala Yaala (criado por Carneal para estas revelações). E a descoberta, não obstante o ingénuo repicar das "composições", desvenda tanta paixão, fruição e pureza que não pode deixar de ser considerado um achado imprescindível e uma preciosa extensão ao cancioneiro maliano mais conhecido dos melómanos do setentrião. O filão do Mali não se esgota naqueles que, "sustentados" pelas máquinas editoriais, se tornaram os ícones consagrados. Vivas a Jack Carneal por nos lembrar isso!
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