Consagrada ao lado dos Banshees - o colectivo que chefiou, com inúmeras convulsões internas, durante cerca de duas décadas - como um dos ícones mais emblemáticos a emergir das fileiras do punk londrino da ressaca da década de 70, Siouxsie Sioux (Susan Janet Dallion no B.I.) teve ainda nos The Creatures, ao lado do então cônjuge e parceiro criativo Budgie (também fora percussionista dos Banshees), outro dos momentos capitais de construção da identidade sonora que se revela neste Mantaray. Se a primeira (e mais saliente, pelo menos em termos de impacto mediático) experiência com os Banshees lhe trouxe a irreverência e o sentido de urgência eléctrica do punk herdeiro dos Sex Pistols, a mutação para os The Creatures alargou o espectro "gótico" que estivera presente nas composições desde o primeiro instante, permitindo-lhe ir ao encontro da flexibilização do registo vocal (aí se revelando uma cantora efectiva) e, sobretudo, da exploração livre de outros formatos rítmicos.
Foram precisos trinta anos para, depois da recente separação de Budgie, Siouxsie tomar as rédeas da primeira produção verdadeiramente a solo. E Mantaray é ensejo para desvendar uma artesã segura do seu estatuto e das virtudes de cada episódio do percurso artístico, coisa que transparece na confiança do disco, sem hesitações na hora de coligir as matérias quintessenciais do passado e, mais do que isso, a somar-lhes, radicalismos à parte, uma ou outra insinuação original e um revestimento mais moderno. Às coordenadas contingentes dos Banshees e aos subterfúgios hipnóticos dos Creatures, Mantaray junta laivos da cultura suburbana corrente e algumas derivações estéticas bem apuradas pela produção, do rock pulsante da extraordinária "Into a Swan", ao preito a Shirley Bassey de "Here Comes That Day", ao piano catártico de "If It Doesn't Kill You" ou "Heaven and Alchemy", ao minimalismo desconcertante de "Drone Zone". Bom regresso.
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