Sueco com raízes parentais na Argentina, José González conseguiu projecção além-fronteiras, há dois anos, com o mesmo disco que, um par de anos antes, o havia consagrado na sua terra natal. Veneer surgiu, então, como um verdadeiro manifesto de preito às virtudes da música acústica, assim provando as potencialidades comerciais de um conceito pop distante dos artifícios de estudo e cosméticas próprias dos grandes mercados. Reduzir canções ao cerne primário da combinação voz/guitarra - no padrão de González também com a ajuda de uma discreta comitiva de percussões - é um exercício arriscado porque, na ausência de adornos e com o consequente minimalismo estrutural, as melodias devem ser pensadas para uma exposição crua e despida.
Nesse particular, a música acústica é uma faca de dois gumes: ou as composições vencem as delicadas exigências desse formato mínimo, assim se afirmando como canções de méritos artísticos sem discussão (porque dispensam enfeites de qualquer espécie e valem por si mesmas); ou, por oposição, falham quando chamadas a mostrar-se na essência mais esqueletal. In Our Nature, segundo álbum de González, está no primeiro desses pólos definidores. Tal como no antecessor, as peças são uma afirmação de identidade: González é, de facto, o trovador moderno por excelência, o tímido realista das emoções cantadas ao ouvido. "Down the Line", "Killing For Love" e "Teardrop" (revisão do clássico dos Massive Attack) formam a tríade de pedras angulares de um edifício de sons que, não sendo tão estimulante quanto o primeiro (talvez por ter-se esvaziado o efeito surpresa), conserva os feitiços de afinidade com o ouvinte. Intimismo é o sinónimo.
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