Conhecendo-se o passado de Fernando Corona e sabendo-se que este terceiro disco do mexicano teve como premissas inspiradoras algumas visitas a planetários do Velho Continente, faz todo o sentido que o título de baptismo da obra antecipe um sentido musical abertamente "cosmológico". Afinal, não é segredo para ninguém que, depois das façanhas menos notadas (pelo menos, fora do seu país) no Nortec Collective - onde, ao lado de gente célebre da electrónica mexicana, converteu a música tradicional a andamentos mais dançáveis - Corona se converteu à exploração de dimensões mais espaciais da techno minimalista. Foi assim que, como Murcof, fundou um derivado electrónico (e vanguardista) da música clássica contemporânea, não no sentido académico da expressão, antes na sua acepção mais escapista e intimista, algures entre o minimalismo orgânico e os planos espaciais de som.
E se a dupla prévia de álbuns fez doutrina dessa estética, mostrando-nos uma fusão cada vez mais depurada (e, consequentemente, um casamento com menos antagonismos) de ingredientes estruturalmente díspares, este Cosmos reforça a ideia de que estamos perante um artífice conhecedor da autoridade cenográfica da música em duas vertentes: a acústica e a sintética. E das vantagens no seu enlace, como bem se percebe no processamento das sinfonias de bolso dos instrumentos, da sua acomodação à estética espacial que norteia o disco e ao nervo aspergido pelas batidas electrónicas. De um garbo irrepreensível, ainda assim não escapando a algumas derivações mais próximas da escola ligeira do chill out, Cosmos é, sem alarido renovador, uma achega congruente à discografia de Murcof. E isso quer dizer que, mesmo tratando-se de um exercício executado em volta de um ideário que vai acusando princípios de cristalização (e, por isso, gerador de alguma monotonia), estamos perante uma combinação de sons de vanguarda suficientemente fértil para "agarrar" os seguidores mais indefectíveis.
Posto de escuta Sítio da Boomkat
Sem comentários:
Enviar um comentário