segunda-feira, 24 de setembro de 2007

PJ Harvey - White Chalk

8/10
Island
2007
www.pjharvey.net



Embora as primeiras audições deste White Chalk indiciem uma sonoridade bem diferente, seguindo a onda de rumores que antecipou este disco como uma espécie de viragem anatemática de Polly Jean Harvey em relação ao passado de diva do rock independente, a verdade é que, decifradas as entranhas do oitavo álbum da compositora britânica, se percebe que a mudança é apenas um subterfúgio formal. É verdade que, no lugar das canções agitadas pelas guitarras e pela voz crua - coisas absolutamente emblemáticas do percurso de Harvey - surgem agora composições isentas de electricidade e voltadas, sobretudo, para o intimismo.

As mãos de Harvey esculpem no piano (o instrumento maior do disco) a delicada raiz melódica das canções, quase ao jeito de uma confissão resignada (por oposição à animosidade e sedição de outros momentos) que, a despeito de lograr alma bastante para ter expressão de per si, ganha outra amplitude graças aos celestiais arranjos (cortesia da mágica alquimia de John Parrish) e, surpresa maior, ao impacto vocal de Harvey, aqui capaz de desdobramentos em tons mais altos do que os que conhecemos antes. Essa elasticidade vocal reforça a "espiritualidade" e o personalismo do disco e, en passant, qual comovente eufonia de sereia sombria, seduz-nos para um tenso refúgio de desolações alvas, onde a rebelião dos indomáveis (como o sangue de PJ Harvey) se faz numa vogante dança de espectros. Tranquilize-se o espírito. A melancolia não é mera retórica. White Chalk mostra que, afinal, ela pode ser apenas a rebeldia a olhar para dentro de si e a aceitar os fantasmas.

Posto de escuta Sítio da 7digital

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