A viver um momento especialmente criativo da sua carreira, ainda que raramente notada pelos grandes públicos, a nova-iorquina Nina Nastasia é uma das mais assombradas descendentes da fina tradição folk da música americana. Com um quarteto de discos religiosamente leais a uma certa solenização crua da melancolia, da mágoa e da desilusão, feita sobretudo à custa de composições que, construíam melodias minimais em volta da tensão vocal da compositora, depois adquirindo amplitude em altivos arranjos semi-orquestrais, a música de Nastasia já não guarda segredos. Esse intimismo quase pastoral é retomado neste You Follow Me. Jim White, excelso baterista dos Dirty Three (ao lado de Mick Turner e Warren Ellis) e parceiro de gravação desde os tempos de Run to Ruin (2003), é aqui mais do que um figurante e co-assina as peças do alinhamento, precipitando sobre as composições uma brilhante vocação arrítmica (por vezes, confunde-se com dissonância), em certos momentos a roçar o improviso ou o ligeiro psicadelismo. Tudo coisas que jogam maravilhosamente com a afectuosa amargura do canto e dos dedilhados de Nastasia.
Desde que os primeiros acordes do disco se espalham no ar, se percebe que You Follow Me é também o mais despido dos álbuns de Nina Nastasia, sem os característicos arranjos de opus anteriores. Reduzidas a um esqueleto de cumplicidades inatas entre voz, bateria e guitarra, as canções habitam um espaço de empatias naturais entre os dois músicos e consomem energias fortuitas (por isso tão encantadoras) do contratempo entre o recato confessional de Nastasia e o nervo inquieto de White. E perceber como, ao contrário do que seria expectável, a vitalidade da percussão excitada de White - do melhor que se ouviu nos últimos tempos em disco, a repescar alguma da feitiçaria dos Dirty Three - não corrompe minimamente o intimismo de Nastasia e, ao invés, lhe injecta uma silhueta de esperança, é uma das melhores surpresas que este ano discográfico nos trouxe.
Posto de escuta Sítio da Fat Cat
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