domingo, 22 de julho de 2007

Map of Africa - Map of Africa

7/10
Whatever We Want
Flur
2007
www.myspace.com/
mapofafricatheband



Não é facto virgem que a música de dança contemporânea vem sendo, há uns anos a esta parte, o campo de oportunidades usado por uma curiosa (e pouco coordenada) vaga de protagonistas reinventores à procura de novos conceitos estéticos, ora invocando memórias respeitadas de tendência dançante e dando-lhes o toque de modernidade, ora importando (e conjugando) discursos de outras estirpes de som. Assim, já não surpreende que, de tempos a tempos, alguns DJ's invistam nesse incerto propósito de experimentar soluções alternativas para um género algo dado à inércia, desse modo vencendo preconceitos estéticos e ensaiando proximidades mais ou menos felizes com outros géneros musicais. Map of Africa é exemplo paradigmático dessa filosofia e, ao contrário do que o seu nome automaticamente faria supor, não é uma síntese da música do continente negro; ao invés disso, trata-se de uma colecção de amores (ilegítimos?) que Harvey Basset (sim, o ecléctico DJ Harvey, convidado regular das sessões londrinas Ministry of Sounds) e Thomas Bullock (uma das metades do projecto Run-N-Tug, expert na ciência do remix), dois vultos salientes da actual cena club nova-iorquina, partilham pelo rock. Nesse sentido, Map of Africa mostra um pendor contra natura de Harvey e Bullock, no sentido de que as composições louvam o legado rock setentista (e suas descendências posteriores), entre a configuração arty progressiva de uns Pink Floyd, o ênfase eléctrico dos Black Sabbath ou a indulgência dos Dire Straits, executado na sacra trindade instrumental guitarra eléctrica/baixo/bateria, por oposição à esperada determinação digital dos DJ's britânicos. A revisão de "Black Skin Blue Eyed Boys", original dos Equals, faz anúncio desses parâmetros e serve de mote para a mistura de estilos (entre o ontem e o amanhã) que lhe segue no alinhamento e que, partindo do tal património rock, vai paulatinamente evoluindo para outros planos, desde os blues ao funk, da jornada dub progressiva ao desarranjo estrutural do psicadelismo. No final, a despeito da inevitável descontinuidade estética que uma mistura tão ambiciosa sempre arrastaria, fica a impressão de que, mais do que ser uma declaração acabada de novos costumes, Map of Africa é um profícuo laboratório de assimilação de ideias e ensaios, em volta de ideários de culto. Vale essencialmente pela fascinante incerteza da descoberta.

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