terça-feira, 3 de julho de 2007

Bexar Bexar - Tropism

6/10
Team Judas
Own Records
2007
www.westernvinyl.com



Em tempos, o guru Brian Eno terá dito que a música ambiental é tanto mais valiosa quanto mais for capaz de apelar, sem se desvirtuar a si mesma, a múltiplas dimensões da atenção do ouvinte, ora estimulando a sua plenitude sensorial, ora desfilando na mera condição de "objecto" despercebido. A definição assenta como uma luva às texturas minimalistas do texano Bexar Bexar, perfeitamente ambivalentes nessa dupla condição. As guitarras acústicas dão o filamento primário às construções, deixando vácuos em aberto que são preenchidos por camadas espectrais de elegantíssima electrónica borbulhante. É esse exercício de equilíbrio entre o laconismo das guitarras - afinal, o sublinhado corpóreo do disco - e a abstracção digital (por vezes, partindo do mero uso da estática) que produz as sugestões melódicas de Tropism, não necessariamente fiéis a uma estruturação rígida e, sobretudo, urdidas com um precioso sentido da importância do detalhe. Nesse particular, o álbum suplanta decisivamente a irresolução do seu antecessor (Haralambos, de 2003), indo mais além nos preciosismos de (des)construção dos mais singelos acordes de guitarra (o verniz digital eleva-os da mundanidade) e prescindindo do casualismo beats do debute. Profundamente reflexivo, Tropism é, acima de tudo, o lugar plácido onde fortuitamente se encontram múltiplas dimensões do mesmo espírito criativo, como que fervilhando em combustão de ansiedades, aí se evaporando rumo a um repouso pensante e imune à gravidade. Pena é que, nesse intrincado processo, Bexar Bexar não destine mais tempo ao apuro das melodias e, por isso, com uma ou outra excepção, os trechos acabam por resvalar irremediavelmente para uma mediania à qual não estariam obrigados.

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