sexta-feira, 13 de julho de 2007

Mário Laginha Trio - Espaço




Se há perspectivas artísticas que levianamente tendem a reflectir nos produtos artísticos de per si, descurando paralelismos latentes (e consequentemente ignorando concordâncias mais ou menos óbvias) que se podem traçar entre as várias formas de arte como mecanismos superiores de comunicação e linguagem, não é esse o caso do último opus de Mário Laginha. Obra encomendada por ocasião da Trienal de Arquitectura em Lisboa, Espaço é um exercício de composição que, ao lado dos códigos criativos habituais no trabalho do músico/compositor, sugere algumas incursões por conceitos caros à arquitectura; apontem-se, a título meramente exemplificativo dois pontos de contacto entre música e arquitectura, tão bem explorados neste disco: a lógica de oposição (ou disposição) de planos para ocupar o espaço - que, na música tem paralelo abstracto na dinâmica silêncio-som - ou outras disposições mais modernas, como a noção de assimetrias, tão em voga na arquitectura contemporânea - musicalmente representados pela estruturação dissonante das melodias. Em oito peças, cada uma com a sua própria natureza "espacial" e geometria (e consequente insinuação imagética), algures entre a orgânica livre do jazz e os paradigmas conceptuais que, da arquitectura, se projectam na música (planos, superfícies e espaços baralhados num simbólico universo de sons), Laginha e compinchas (Bernardo Moreira, ao contrabaixo, e Alexandre Frazão, na bateria) experimentam as imensas coincidências entre dois idiomas artísticos que encontram, no espaço (leia-se também, no silêncio), o vazio inspirador onde depositam lastros e confidências a que dão a forma de arte. E dessa interacção activa com o vácuo, do estímulo inadiável para o preencher, nascem, em instantes felizes, as mais esplêndidas obras. E Espaço, com o jeito científico de um compositor que, aqui, lê pentagramas como se fosse um aprendiz clandestino de arquitectura, é uma delas.

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