As primeiras notas de "Unhappy Ending Movie", trecho de abertura do primeiro álbum do trio lisboeta Become Not, deixam no ar o prenúncio (confirmado no resto do alinhamento) de um som com profunda inclinação intimista e que aposta sobretudo na simplicidade estrutural das composições para lá chegar. Paulo Baeta (guitarra), João Guerreiro (voz) e JP (sintetizadores) abreviam o processo de construção melódica à dimensão mais introspectiva que se pode tirar da guitarra acústica, assim delineando os contornos misantrópicos das canções; depois, além da presença vocal com expressividade desencantada (pontualmente a resvalar para um ou outro cliché "meloso" que diverge do propósito ambiental das composições), desvendam-se curiosos jogos de galanteio entre a acústica e as envolvências espectrais dos sintetizadores. Estas, em jeito de catarse, são o utilíssimo complemento escapista de Become Not e, não fosse o caso de quase sempre se esconderem atrás das demais ferramentas, seriam a matéria definidora de uma identidade sonora mais consistente. Porque aí reside o busílis do álbum. A despeito de alguns momentos de efeito generoso, mormente os ápices em que as texturas se desprendem da voz e alcançam vida própria na incerteza da elevação instrumental (como no caso da peça de abertura ou de "You Never Were", os momentos altos do álbum), não chega a descortinar-se a solução identitária para a indecisa equação de estilos dos Become Not. E isso porque não é fácil conciliar, sem danos colaterais, o mais "clássico" dos registos de cantautor (em entendimento certo das virtudes etéreas da música ambiental) com um dispensável subterfúgio pseudo-romântico/baladeiro (que chega a lembrar os instantes mais chorosos dos Extreme). E mesmo uma produção cristalina não esconde o incómodo dessas impurezas.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Become Not - Become Not
As primeiras notas de "Unhappy Ending Movie", trecho de abertura do primeiro álbum do trio lisboeta Become Not, deixam no ar o prenúncio (confirmado no resto do alinhamento) de um som com profunda inclinação intimista e que aposta sobretudo na simplicidade estrutural das composições para lá chegar. Paulo Baeta (guitarra), João Guerreiro (voz) e JP (sintetizadores) abreviam o processo de construção melódica à dimensão mais introspectiva que se pode tirar da guitarra acústica, assim delineando os contornos misantrópicos das canções; depois, além da presença vocal com expressividade desencantada (pontualmente a resvalar para um ou outro cliché "meloso" que diverge do propósito ambiental das composições), desvendam-se curiosos jogos de galanteio entre a acústica e as envolvências espectrais dos sintetizadores. Estas, em jeito de catarse, são o utilíssimo complemento escapista de Become Not e, não fosse o caso de quase sempre se esconderem atrás das demais ferramentas, seriam a matéria definidora de uma identidade sonora mais consistente. Porque aí reside o busílis do álbum. A despeito de alguns momentos de efeito generoso, mormente os ápices em que as texturas se desprendem da voz e alcançam vida própria na incerteza da elevação instrumental (como no caso da peça de abertura ou de "You Never Were", os momentos altos do álbum), não chega a descortinar-se a solução identitária para a indecisa equação de estilos dos Become Not. E isso porque não é fácil conciliar, sem danos colaterais, o mais "clássico" dos registos de cantautor (em entendimento certo das virtudes etéreas da música ambiental) com um dispensável subterfúgio pseudo-romântico/baladeiro (que chega a lembrar os instantes mais chorosos dos Extreme). E mesmo uma produção cristalina não esconde o incómodo dessas impurezas.
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