O casual encontro entre o percussionista Steve Reid e o mentor do projecto de electrónica abstracta Four Tet, Kieran Hebden, conhece novo desenvolvimento, depois do imprevisto sobressalto que as sessões improvisadas registadas no duplo The Exchange Sessions, do ano transacto, conseguiram junto da comunidade melómana. Reid é um consagrado do orbe clássico do jazz - ainda que no injustamente "relativizado" papel de assistente de Ornette Coleman, Sun Ra, Miles Davis, James Brown ou Fela Kuti - e procura, neste Tongues, convergências com uma estética electrónica fiel à fruição na informalidade (aí residindo um importante factor de paridade entre os universos representados pelos dois músicos) e os sons de síntese, substâncias obviamente mais caras aos mundos de Hebden. No fundo, a proposta não diverge substancialmente dos trabalhos anteriores, assemelhando-se à continuidade lógica do entrosamento entre dois músicos que, sendo cultores de idiomas e gerações sonoras distintas, parecem ter encontrado uma linguagem comum. Pena é que Reid e Hebden se tenham imposto um certo pragmatismo temporal, ao contrário do que acontecera nas gravações da Exchange, trinchando os improvisos em volta dos cinco ou seis minutos. Com isso, os trechos resultam mais lacónicos e "convencionais", assim prescindindo de parte nuclear dos processos de especulação e experimentalismo, mormente através do abreviamento dos ciclos de crescimento das ideias. E esse (dispensável) compromisso de urgência, em último caso, subtrai algum fascínio às peças, não obstante a riqueza conceptual do disco.
sexta-feira, 30 de março de 2007
Kieran Hebden & Steve Reid - Tongues
O casual encontro entre o percussionista Steve Reid e o mentor do projecto de electrónica abstracta Four Tet, Kieran Hebden, conhece novo desenvolvimento, depois do imprevisto sobressalto que as sessões improvisadas registadas no duplo The Exchange Sessions, do ano transacto, conseguiram junto da comunidade melómana. Reid é um consagrado do orbe clássico do jazz - ainda que no injustamente "relativizado" papel de assistente de Ornette Coleman, Sun Ra, Miles Davis, James Brown ou Fela Kuti - e procura, neste Tongues, convergências com uma estética electrónica fiel à fruição na informalidade (aí residindo um importante factor de paridade entre os universos representados pelos dois músicos) e os sons de síntese, substâncias obviamente mais caras aos mundos de Hebden. No fundo, a proposta não diverge substancialmente dos trabalhos anteriores, assemelhando-se à continuidade lógica do entrosamento entre dois músicos que, sendo cultores de idiomas e gerações sonoras distintas, parecem ter encontrado uma linguagem comum. Pena é que Reid e Hebden se tenham imposto um certo pragmatismo temporal, ao contrário do que acontecera nas gravações da Exchange, trinchando os improvisos em volta dos cinco ou seis minutos. Com isso, os trechos resultam mais lacónicos e "convencionais", assim prescindindo de parte nuclear dos processos de especulação e experimentalismo, mormente através do abreviamento dos ciclos de crescimento das ideias. E esse (dispensável) compromisso de urgência, em último caso, subtrai algum fascínio às peças, não obstante a riqueza conceptual do disco.
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