Apreciação final: 6/10 (Vol. 1)
7/10 (Vol. 2)
Edição: Domino Records,
Março 2006 (Vol. 1)
Junho 2006 (Vol. 2)
Género: Música Improvisada
7/10 (Vol. 2)
Edição: Domino Records,
Março 2006 (Vol. 1)
Junho 2006 (Vol. 2)
Género: Música Improvisada
Sorver música com o esteio experimental dos volumes The Exchange Session não é assunto universal, ou não fosse o vanguardismo uma escola pouco estimada pelas massas, normalmente partidárias dos géneros de consumo directo. Orquestrações com olhos postos na incerteza das épocas vindouras são, as mais das vezes, produtos proscritos ou, por pura condescendência de mentes mais irrequietas e curiosas, espécimes consagrados a pequenos nichos de melómanos. Não é que o futuro não espicace o sujeito regular, antes lhe interessa o cómodo lucro de escutar música presente, sem ousar a previsão de conjecturas do amanhã. A esses, a pesquisa visionária de Kieran Hebden e Steven Reid pouco dirá. Aos outros, para melhor entenderem a lavra audaz destes músicos, talvez se imponha um breve resenha do seu trajecto.
O inglês Kieran Hebden foi um teenager rockeiro, admirador das sentenças de Hendrix e dos Led Zeppelin, e estreou-se nas lides musicais nos Fridge, trupe de rascunhos lo-fi, um registo musical díspar do seu projecto mais ilustre, o pseudónimo Four Tet, exímio laboratório de divagação electrónica. Já Steve Reid, inventor de outra geração, subscreve causas diferentes. Reputado produtor e percussionista jazz, conta centos de gravações, algumas delas como parte da comitiva de amigos célebre como Miles Davis, Dexter Gordon, Sun Ra, Archie Shepp, Fela Kuti e James Brown. Feito o obséquio das apresentações, retenhamos a atenção no porte da música.
Repartida em dois volumes, a série The Exchange Session é uma sociedade de sons pautada pelo improviso. Gravadas ao vivo, as peças não permitem mais do que animações em tempo real à orgânica de Hebden, assim compelido a seguir a escolta percussiva de Reid. Efectivamente, é a percussão que dá o mote, marcando o pulso e regendo o compasso, mas isso não esfria a detonação erudita de ruídos e samples, num ímpeto pouco domesticável. Hebden fica sem âncora e, curiosamente, a sua música adquire, na interacção com Reid, outra cinética, com margem para contorcionismos e excentricidades não escutadas na assinatura Four Tet. Depois, a parcimónia de Reid reduz a percussão à sobriedade groove mais solúvel com as megalomanias pós-industriais de Hebden, excepção feita a alguns címbalos mais calorosos, amplificação que em nada encurta o plano lacónico de Reid, por oposição à incontinência quase lunática de Hebden. Como se fossem irmãos coevos de Dr. Jekyll e Mr. Hyde. O entrosamento e as modulações são superlativos, especialmente tendo em conta que estes são os primeiros trabalhos deste par. Pode chamar-se a isto jazz livre ou futurista, no encalço dos esboços dos Spring Heel Jack, embora aqui se adensem as expressões sintéticas do fantástico e se almejem horizontes menos rigorosos: os filões de música anti-probabilidades, deformadora das estruturas convencionais e plena de inventividade.
Com sinergias mais vincadas, as construções de Vol. 2 mostram melhor fluência sequencial e, com isso, acercam-se de um auge incerto (para os próprios músicos), zénite esse que fica um tanto distante em Vol. 1, tomo mais prolixo e, consequentemente, de estruturas mais difusas. Ainda assim, o referencial dos dois volumes é muito semelhante e baseia-se numa lógica de progressão em transgressão, o que é o mesmo que dizer crescimento sem regra. E, vistas (e ouvidas) bem as coisas, a colecção The Exchange Session é uma generosa propaganda da música improvisada, a cargo de dois músicos destros nas suas artes e que encontram, melhor ou pior, calhas comuns nas atipicidades do jazz e da electrónica.
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