Ele já foi foguete das tumbas (quem não se lembra dos Rockets?), nos tempos em que o punk era ainda um embrião e, já então, ensaiava as primeiras marchas do que se convencionaria chamar de pós-punk. Visionário ou alucinado, David Thomas é um bardo polémico e escarnicador, um homem de caneta fria e convulsiva, alguém que se recompensa na proscrição (auto?) infligida por um mundo que não se esforça por decifrar a sua fina ironia. E ele não faz muito por descalibrar essa tendência no 15.º álbum de um percurso cheio de grãos, servindo-nos um concentrado misógino (ou sardónico?) dos seus elementos quintessenciais: a guitarra impura de Moliné, serpeante e sem cambaleios, o sintetizador em órbitas imprudentes, um theremin de estáticas incontinentes, o ruído alcalino e as percussões com princípios de cacofonia e irregularidade temporal sem aviso. Why I Hate Women é a tradução musical da bricolage amadurecida de Thomas, cheia das dissonâncias típicas da suas provetas loucas - que ele faz questão de não considerar experiências, antes o fruto de um sistema criativo prévio - e é, por isso, mais do que um disco de música experimental, um manifesto de uma das mentes mais turvas e inventivas da moderna música americana.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
Pere Ubu - Why I Hate Women
Ele já foi foguete das tumbas (quem não se lembra dos Rockets?), nos tempos em que o punk era ainda um embrião e, já então, ensaiava as primeiras marchas do que se convencionaria chamar de pós-punk. Visionário ou alucinado, David Thomas é um bardo polémico e escarnicador, um homem de caneta fria e convulsiva, alguém que se recompensa na proscrição (auto?) infligida por um mundo que não se esforça por decifrar a sua fina ironia. E ele não faz muito por descalibrar essa tendência no 15.º álbum de um percurso cheio de grãos, servindo-nos um concentrado misógino (ou sardónico?) dos seus elementos quintessenciais: a guitarra impura de Moliné, serpeante e sem cambaleios, o sintetizador em órbitas imprudentes, um theremin de estáticas incontinentes, o ruído alcalino e as percussões com princípios de cacofonia e irregularidade temporal sem aviso. Why I Hate Women é a tradução musical da bricolage amadurecida de Thomas, cheia das dissonâncias típicas da suas provetas loucas - que ele faz questão de não considerar experiências, antes o fruto de um sistema criativo prévio - e é, por isso, mais do que um disco de música experimental, um manifesto de uma das mentes mais turvas e inventivas da moderna música americana.
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