A nota de lançamento do projecto Jazz Iguanas vale-se de uma máxima do ficcionismo de Phillip K. Dick, controverso novelista americano e pirrónico convicto da espécie humana e seu futuro. Na citação, Dick espia o cepticismo idiossincrático da sua órbita criativa, o mundo dos "falsos humanos" e das objectividades meramente virtuais. Ao escutar Jazz Iguanas, identidade alternativa de Miguel Pedro e António Rafael (músicos dos Mão Morta), percebe-se a correlação com esse orbe futurista de Dick, sob a dominância de caracteres maiuscúlos de som sintético, friamente programados para governar os estímulos orgânicos das composições. É, nesse sentido, um disco maquinal, como se o computador se emancipasse do humano-programador e se fizesse, ele próprio, um "falso humano". Ou um "falso instrumento". E, na ilusão de falsidade, corresse livre no espaço do improviso (como um jazz absurdo), necessariamente quebradiço e desregrado, convulsivo e dinâmico. Seguem-lhe a pisada as cordas do piano, também rendidas ao laço ilusivo, como a guitarra e o contrabaixo, e, juntos, orquestram daguerreótipos apurados de um mundo sem homens reais. Ou onde a carne e o osso são apenas circunstância aparente. E que bem ficariam estes acordes (ou outros que nascessem do mesmo génesis) no recente tributo de Richard Linklater às alucinações de A Scanner Darkly.
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
Jazz Iguanas - Jazz Iguanas
A nota de lançamento do projecto Jazz Iguanas vale-se de uma máxima do ficcionismo de Phillip K. Dick, controverso novelista americano e pirrónico convicto da espécie humana e seu futuro. Na citação, Dick espia o cepticismo idiossincrático da sua órbita criativa, o mundo dos "falsos humanos" e das objectividades meramente virtuais. Ao escutar Jazz Iguanas, identidade alternativa de Miguel Pedro e António Rafael (músicos dos Mão Morta), percebe-se a correlação com esse orbe futurista de Dick, sob a dominância de caracteres maiuscúlos de som sintético, friamente programados para governar os estímulos orgânicos das composições. É, nesse sentido, um disco maquinal, como se o computador se emancipasse do humano-programador e se fizesse, ele próprio, um "falso humano". Ou um "falso instrumento". E, na ilusão de falsidade, corresse livre no espaço do improviso (como um jazz absurdo), necessariamente quebradiço e desregrado, convulsivo e dinâmico. Seguem-lhe a pisada as cordas do piano, também rendidas ao laço ilusivo, como a guitarra e o contrabaixo, e, juntos, orquestram daguerreótipos apurados de um mundo sem homens reais. Ou onde a carne e o osso são apenas circunstância aparente. E que bem ficariam estes acordes (ou outros que nascessem do mesmo génesis) no recente tributo de Richard Linklater às alucinações de A Scanner Darkly.
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2 comentários:
A não perder, esta semana (de 12 a 16 de Fevereiro), Jazz Iguanas em destaque no Produto Interno Bruto, programa de música portuguesa da Rádio Zero (http://radio.ist.utl.pt). De 2.ª a 6.ª, pelas 14h (repete às 9h). Há também possibilidade descarregar as emissões em podcast: http://podcast.radio.ist.utl.pt/pib.xml
faco minhas as palavras do Ruben do PIB, mas acrescento também uma opinião pessoal ao teu texto: gostei bastante. Penso que reflecte a escolha exploratória (absurda - elogio) dos JazzIguanas.
Abraço,
Pedro
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