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Quando se soube que, depois de Fantôme Intro das Waltz (2003), um dos mais inspirados trabalhos de estética alternativa alguma vez feitos cá no burgo, o colectivo Kafka se extinguiu, podia adivinhar-se que Filipe Miranda não fecharia aí a loja. Havia (e há) no mentor e vocalista da banda barcelense um talento raro para escrever hinos da melancolia e canções de honestidade arrepiante. Essa faceta é ainda mais sentida em Visions of Solitary Branches, uma colecção de composições espartanas, instrumentalmente frugais e construídas em torno da voz. Os sons que a suportam, sejam do esqueleto de guitarra (amante inescusável de qualquer trovador solitário que se preze), sejam dos apoios sonoros casuais, seguem os tons enleantes do canto, sempre hipnótico e suspenso, portador de um discurso que vai além das palavras. Há alma nestas canções que, sendo despidas de artifícios, se resumem a um minimalismo próprio do género, mas nunca deixam de ser consequentes. Música que nos faz assim recostar e pesar as pequenas coisas da vida é docemente perturbante. E arrepia como Old Jerusalem. Também por isso, é difícil prescindir de Visions of Solitary Branches.
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