quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Oneida - Happy New Year


Apreciação final: 7/10
Edição: Jagjaguwar, Julho 2006
Género: Pós-Rock/Experimental/Psicadélico
Sítio Oficial: www.enemyhogs.com








Tal como o cineasta e comediante Woody Allen, também oriundo de Brooklyn, dispersou com astúcia pela sua obra as inúmeras faces da Grande Maçã, esculpindo nas suas fitas caracteres activamente cosmopolitas, rebentos fidedignos de uma cidade global e nervosa, quase sempre neuróticos e instáveis, autocríticos e comiseradores, os conterrâneos Oneida especulam musicalmente sobre a mesma metrópole. Sente-se na música deste trio nova-iorquino uma pouco civilizada pugna de géneros, de onde é oriundo um dínamo incatalogável de partículas energéticas, como uma fusão de genes de múltipla personalidade, de cultos vários e abertura de espírito a níveis máximos. É essa a semente com que Nova Iorque fecundou a música destes três indomáveis, dando-lhes a intrepidez para afrontarem qualquer regra padronizada da indústria musical e para não fazerem caso das famílias musicais instituídas mas, ao invés, terem o desaforo de amalgamar tudo, aparentemente sem ordens de qualquer espécie e sem o espartilho de formatações pré-definidas. Para os Oneida, cada peça musical é reprodução prática de experiências sonoras fora da lei, de ensaios anormais com as mais variadas matérias, desde o rock académico ao noise mais castiço, das nuances psicadélicas à volubilidade do experimentalismo, dos fetiches retro às alucinações vanguardistas, do ensejo artístico ao contorcionismo instrumental. Com eclectismo ou excentricidade criativa, a verdade é que o som dos Oneida é singular, preciso na construção de um caos arrebatador, um retrato anti-sinfónico da esquizofrenia nova-iorquina, necessariamente retalhado, inconsistente, complexo, agridoce.

Happy New Year, oitavo fascículo do percurso dos Oneida, segue o rasto dos antecessores e aventa fórmulas alternativas para o amanhã da folk americana, dando continuidade às proezas precursoras de Scott Walker, embora com diferente subtileza. Se Walker reinventa a canção na configuração, baralhando as matrizes estruturais e os protótipos vocais, os Oneida adicionam excentricidade instrumental, músculo sem freios e infracção ruidosa. Talvez não seja este o disco para os catapultar para a visibilidade merecida mas o carácter visionário dos Oneida permanece impoluto, descomprometido e livre, rumo ao deslumbramento de um mini-cosmos confuso que, por fim, sempre esteve latente na cidade que não dorme. Assim cantava Sinatra e assim filmou Allen. Os Oneida unem esforços para que ninguém adormeça.

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