Apreciação final: 7/10
Edição: Glitterhouse/AnAnAnA, Agosto 2006
Género: Folk Alternativo/Experimental/Espiritual
Sítio Oficial: www.wovenhand.net
Edição: Glitterhouse/AnAnAnA, Agosto 2006
Género: Folk Alternativo/Experimental/Espiritual
Sítio Oficial: www.wovenhand.net
Distanciando-se gradualmente das fantasias e dos caprichos country incomuns dos 16 Horsepower, colectivo de Denver que governou desde a década de 90, David Eugene Edwards encontrou no alter ego solitário Woven Hand (em palavras lusas, o rótulo significa "mãos juntas em oração") a contextura útil para converter a sua música à doutrina de misticismo espiritual que, se era decifrada subliminarmente nos 16 Horsepower, aqui é apregoada com arrepiante generosidade. Não é estranha a esse facto a devoção cristã de Edwards, não fosse ele descendente de um pregador da Ireja do Nazareno, culto de impressão protestante de origem no sul da América. O quarto registo do projecto Woven Hand prolonga os atalhos de espiritualidade e os enigmas escuros dos antecessores, desembrulhando os atributos de temperamento religioso em sucessivas camadas de música espectral, como num renque de preces fantasmáticas do oculto, sentidas e viscerais. Assim é Mosaic, sem os louvores e aplausos em uníssono dos sons gospel, antes a profissão de fé de um eremita (Edwards é-o cada vez mais, pelo menos na apologia da contrição do vício humano) que, ciente da transitória natureza do sopro da vida, modestamente se posta perante a divindade para abrir o espírito em confissão. A música consagrada a este acto intangível é, como não podia deixar de ser, íntima e pouco expansiva, típica de Woven Hand, com estruturas simples e introvertidas, ora gravadas a guitarra ora com o auxílio de violinos, de nervo folk-country-gótico e saibo medieval. Ingrediente novo em Mosaic: as emendas de música celta (em revisão psicadélica) no final da inquietante "Slota Prow - Full Armour".
O cerimonial de Mosaic é nocturno e escatológico mas não chega a ser extemporâneo, não fossem estes desígnios teológicos coisa suficiente para meditar. Edwards é crente mas não faz do álbum um manifesto sectário, antes nos guia pelas suas reflexões e apelos, invocando repetidamente despiques maniqueístas, a sedução do mal vs. a resistência do bem (a profecia assombrada de "Elktooth" por oposição à bucólica "Whistling Girl"). Musicalmente, Mosaic não se desvia do cunho idiossincrático de Edwards, nem soma matérias originais ao seu cancioneiro. Mas esta é a música dos filhos de um Deus menor, daqueles que, desterrados do abrigo divino, acham a redenção nas sombras e na reverência obstinada da oração, em espera das graças da divindade. Edwards é um deles e reza, connosco, de mãos juntas.
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