sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Bruno Duarte + Old Jerusalem + Puny - Splitted

Apreciação final: 6/10
Edição: Bor Land, Setembro 2006
Género: Split CD/Lo-Fi
Sítio Oficial: http://bor-land.com








A editora matosinhense Bor Land tornou-se, em meia dúzia de anos de uma existência atenta, um cicerone peculiar do que de melhor se faz na periferia da música lusa. Com um punhado de lançamentos distantes do mediatismo das grandes edições, a etiqueta projectou alguns dos conceitos musicais mais isentos do underground português (Alla Pollaca, Old Jerusalem, Kafka, Ölga, Complicado), reconhecendo-se-lhe o condão de, com astúcia rara, tirar o véu a factos musicais relevantes de uma cena musical cada vez mais congestionada de produtos estéreis. Desta vez, a proposta é uma colecção de canções assinadas por três projectos da nossa praça. A saber: o já mais mediático e apreciado Old Jerusalem (espaço de invenção do portuense Francisco Silva), o estreante a solo Bruno Duarte (guitarrista dos München) e o trio viseense Puny, nas primeiras gravações para uma etiqueta, depois de alguns lançamentos a título próprio. Rústico da abertura ao remate, Splitted traz sons sujos e experimentais, em predilecção pela familiaridade (e franqueza) de gravações quase domésticas, de produção mínima e pouca mediação da mesa de misturas. A guitarra é prescrição comum à tríade de artesãos, reinvindicando o destaque estrutural das peças aqui inscritas, ora mais espessa e consistente, ora mais contingente e utópica.

Bruno Duarte, autor de sete trechos (integralmente instrumentais) do alinhamento, assina o registo mais experimental do disco, sem renunciar a um fino timbre pastoral (chame-se-lhe lo-fi), algo que é conjugado superiormente com esporádicas (e superficiais) pinceladas de psicadelismo, revérberos pontuais e incursões tímidas pelo noise plácido (cacofonia até?) ou pela deriva dos ventos pós-rock. Acontecem, depois, os três momentos Old Jerusalem, com o ânimo quebrantado do costume, de graciosa melancolia e notas cândidas que se atam em princípios de incerteza. Essa aparente fragilidade, vestígio inconfundível de Francisco Silva, sustenta odes desarmantes, como na extensa serenata (quase nove minutos!) de "Up North in Convoy", única peça cantada de Old Jerusalem e ápice magno da compilação. Cerrado o mundo de purgação e fantasia de Old Jerusalem, os Puny tomam conta do estaminé. Em curiosa fusão free-folk-rock-psico-qualquer-coisa, os argumentos dos Puny separam-nos de Bruno Duarte e Old Jerusalem. As distorções e a percussão deixam de ser um esqueleto no armário, pulam para o arrojo da primeira fila e o volume sobe. Leva com ele o ruído, trazido a estratos quase nocivos. O pagode alucinado assenta arraiais. Pena é que, no cerne de tamanha parafernália de tralhas sónicas e esboços de ideias, não chegue a perceber-se tacto para ultimar um dos imensos bosquejos. E, mesmo percebendo que não era esse o fim de Splitted, registo necessariamente mais perto do simbolismo da gravação caseira, urge produzir o som dos Puny e, com a régua certa, está aqui o gérmen de um ensemble promissor. Em suma, Splitted tem mais lances de arranque do que matérias acabadas e põe em voga protagonistas modernos e cujos recursos são revalidados (a consagração de Old Jerusalem não depende deste álbum), mostrados noutro tom (Bruno Duarte a solo é bem diferente dos seus München) ou abrem os pórticos para um futuro risonho (Puny).

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