sábado, 23 de setembro de 2006

Helios - Eingya

Apreciação final: 7/10
Edição: Type Records, Junho 2006
Género: Pós-Rock/Instrumental/Lo-Fi
Sítio Oficial: www.typerecords.com








Se o mundo acabar, o amor será as nossas asas. Assim era a profecia de Dave Matthews, numa canção de um cosmos díspar de Eingya mas que, com certeira ardência, ajuda a unir os fragmentos do belíssimo segundo disco de Keith Kenniff sob o pseudónimo Helios. De facto, há qualquer coisa de despego material no disco, como se musicasse, sem angústias ou medos, um apocalipse esperado pacientemente na certeza de um novo sol posterior, prenúncio de um éden maior, glorioso campo de resgate da emoção. O amor é a tábua de salvação do cataclismo, como dispõe a feliz capa do disco, na vacilante caminhada rumo a uma esfera celeste incerta e supranatural, mundo flutuante de luz. A música de Helios é feita desses passos incertos por entre destroços do homem (e do mundo) terminado, da revelação de uma renovada esperança teológica. Também por isso, é comum aos onze trechos de Eingya uma inesperada simetria entre os ambientes do mais imaculado éter, de fé quase virginal na redenção pós-apocalíptica, e a contingência da sua confirmação. É nessa mágica combinação que o álbum se transcende, primeiro comovendo pela mestria melódica e amenidade das eufonias para, depois, nos levar num torpor hipnótico, indiferente aos confins corpóreos. Onze andamentos fazem de Eingya uma sinfonia do éden, seja ele no último átomo do universo ou na mais entusiasta quimera.

As palavras nostálgicas e delicadas são do piano e da guitarra (a voz é fragma apenas num trecho), as substâncias sintéticas locupletam a densidade das faixas, com pulsações lentas e ténues, sublinhando a fragilidade e a decomposição das paredes de som. Engyia é música de respiro demorado, de latente mortalidade e, influxo concomitante, de bucólica transcendência, como que mostrando que, por detrás da carnalidade de cada partícula sonora (na tradução de Helios, de cada molécula humana) há um quinhão de divindade, um pedaço intangível de som celeste, de notas e tons de estrato maior. Mesmo não tocando planos originais ou especialmente inventivos, Eingya leva-nos a sítios pouco revelados (talvez os Boards of Canada já tenham uma bandeira por lá), em cursos de sublime romantismo. De mãos dadas, até ao fim do mundo.

2 comentários:

Spaceboy disse...

É um disco lindo mesmo. Apaixonei-me por ele desde a primeira vez que o ouvi. Merecia mais um ponto, pelo menos.

Unknown disse...

Não lhe dei uma pontuação mais generosa porque acho que, sem querer diminuir a qualidade global do trabalho, não há aqui nada de especialmente inovador.