quinta-feira, 13 de julho de 2006

TV on the Radio - Return to Cookie Mountain

Apreciação final: 8/10
Edição: 4AD, Julho 2006
Género: Pop-Rock Experimental/Pós-Rock
Sítio Oficial: www.tvontheradio.com








Depois do prolixo (e consequentemente difuso...) Desperate Youth, Blood Thirsty Babes (2004), aguardava-se com alguma expectativa o novo capítulo dos americanos TV on the Radio. O álbum de debute firmou os predicados imprevistos do colectivo de Brooklyn, aventando uma estética plena de urbanidade e eclectismo, na linha das tendências mais recentes da música independente, mas a que faltava arrumação e enlace. Desta vez, ao invés de expelirem as (boas) ideias sem controlo, os rapazes depuraram a sua identidade musical e, não hipotecando o encanto experimental e a ambição do som, condensam princípios e pulem melodias. Comparando com o antecessor, Return to Cookie Mountain é mais lacónico, também mais preciso, e isso, no caso destes talentosos artífices, é uma mais-valia porque encaminha a excentricidade (e os desvios) de cada composição para planos mais concretos. O abstraccionismo instrumental - o garante da diversidade do disco - não sai aviltado da proximidade estrutural com a pop, antes reforça o sopro psicadélico dos trechos musicais. Ter sumo pop não é sinónimo de leveza, as composições são espessas e carregadas de alma, com vocalizações afectadas de tribalismo, umas vezes, e de trejeito alucinados à Bowie (além de fã dos nova-iorquinos, até é convidado de honra na faixa "Province") ou Beach Boys, outras vezes, e um corpo musical que funde astutamente a cultura negra, o improviso, a folk, a pop veraneante e os dribles electrónicos.

Mais do que ser o prolongamento lógico de Desperate Youth, Blood Thirsty Babes, o novo álbum é a evolução natural dos TV on the Radio. Superado o custoso exame do sempre difícil segundo disco, aguardam-se outras etapas de um dos mais excitantes ensembles da indie actual. Sejam eles capazes de rebuscar as máximas do seu som, como tão bem ensaiaram neste Return to Cookie Mountain, e reserva-lhes o futuro algo de prodigioso. Enquanto não chega essa obra magna, cabe-nos desvelar pacientemente a atmosfera espiritual única desta colecção de canções. E, com isso, perceber que música genuína como esta impressiona, não por se vender a rótulos, nem por se fechar em estilos, mas por aglutinar a percepção artística com os vários semblantes da incongruência humana.