Apreciação final: 7/10
Edição: Sire, Junho 2006
Género: Cantautora/Folk-Pop/Pop Alternativa
Sítio Oficial: www.reginaspektor.com
Edição: Sire, Junho 2006
Género: Cantautora/Folk-Pop/Pop Alternativa
Sítio Oficial: www.reginaspektor.com
A moscovita Regina Spektor é americana adoptiva. Com a tenra idade de nove anos, na ressaca das reformas da Perestroika, mudou-se com a família para o Bronx, famoso subúrbio de Nova Iorque que lhe aviou porções massivas da cultura underground americana. Daí ao traço tradicional da música de Joni Mitchell, de Patti Smith, de Tori Amos ou Billie Holliday, uma minúscula distância. Tão ilustres influências são notórias em Begin to Hope, terceiro longa-duração de Spektor, sem embargo de uma produção mais requintada e arranjos minuciosos, ora recorrendo a instrumentos reais, ora aceitando a interferência das máquinas. O som é mais denso, sem ser pesado de mais para os ouvidos, e a voz (sem impurezas) encontra outras coordenadas de confiança. O piano é o servente primaz, elemento crucial da formação musical da cantautora e promotor fundamental do corpo harmónico do disco. Nas rendilhas do piano pousam os demais orgãos sónicos das paródias musicadas de Spektor. Em paradoxo, ela é uma estroina responsável, usa a seu bel-prazer os cânones da folk, subverte-os ao ponto de lhes expôr o avesso e as costuras, torce-os e desvia-os do centro para, de chofre, arrumar a burlesca zomba, qual conjunto de peças de lego, numa canção inteira. As truanices (aqui, mais sóbrias) de Spektor são coisa séria; o que parece uma recreação leviana é, afinal, um exercício da mais inocente irreverência musical, uma farsa no palco decadente da humanidade.
Título de estreia de Spektor numa major, Begin to Hope é comedido na extravagância (examinado em paralelo com os antecessores) e, em consequência, ministra trechos musicais de digestão mais ligeira. Nem por isso se deforma o experimentalismo, propriamente tonificado num registo vocal que, sem ecoar com originalidade, materializa a pulsação das composições e oscila, com semelhante primor, entre a doçura confessional e a tirada jocosa. Audíveis sem recurso a manual de instruções, as peças de Spektor são tão cerebrais e criativas quanto chistosas e cómicas. Como se Pasternak re-escrevesse a história do poeta Yuri Zhivago num cabaret do Bronx. Ou se Regina Spektor, sentada defronte de um Steinway & Sons desonrado com tags a graffiti, e com o ar tomado pelo fumo de um Marlboro, ensaiasse uma kalinka tradicional. E Tori Amos a sorrir. Begin to Hope é tudo isso.
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