segunda-feira, 24 de julho de 2006

Drums & Tuba - Battles Olé

Apreciação final: 7/10
Edição: Righteous Babe, Setembro 2005
Género: Rock Experimental/Pós-Rock/Fusão
Sítio Oficial: www.drumsandtuba.com








Os trio texano Drums & Tuba é adestrado em malabarismos com a tradição. Talvez por isso, a pronúncia do som de Anthony Nozero (percussão e electrónica), Neal McKeeby (guitarra) e Brian Wolff (sopros) recolha, ao mesmo tempo, mensagens de correntes musicais anacrónicas e uma feição experimental contemporânea. Das observações do passado, sobressaem os costumes do antigo jazz negro de New Orleans, declaração emancipadora dos instrumentos de sopro (especialmente da tuba, aqui em falas graves de baixo) ao serviço de marchas militares, aqui empregues como subsidiários, ao jeito de um subliminal e ébrio espectro de "When the Saints Go Marchin' In". Ao lado dos sopros, erro fantasmático, os Drums & Tuba espargem percussões e tempos africanos, qual rito de paganismo tribal convertido a sessão espírita hodierna, com embalo funk e seguidora dos manuais rock. Distinguem-se vestígios de praxes progressivas que não chegam a tomar o posto de um rock antes feito de preciosismos e de ângulos matemáticos, os serventes últimos de construções desembaraçadas, quase pós-punk, por aceitarem a irreverência formal. A voz pica o ponto pela primeira vez nos costumes no grupo, descaminhando a atenção do ouvinte da excelência instrumental, mas isso nada deduz aos ambientes vulcânicos do disco. Essa tensão arrasante é comum à meia-dúzia de peças de Battles Olé e é ministrada sem prazo, com recurso aos motivos idiossincrásicos da compleição do trio: o groove nervoso da tuba, as acrobacias improváveis da guitarra e a firmeza pulsante da bateria.

Battles Olé é um assalto pouco pacífico aos tímpanos, não pelo estrondo mas pelo gentil constrangimento provocado pela densidade das substâncias. E pela inconstância dos repentes que dão ao disco um sabor de improviso. A mímica contorcionista dos músicos é prova de uma competência técnica acima da média, algo que o trio utiliza para encenar orbes psicadélicas, com o carácter de intrigas escuras e desafios sónicos de coordenadas fora do alcance. Com um pouquinho mais de zelo na melodia, Battles Olé podia ter sido proeza sem par, assim fica-se pela façanha de mostrar a generosa arte dos Drums & Tuba àqueles a quem, não conhecendo o património da banda, apeteça testar alfabetos alternativos de um universo habitado por criaturas - tuba (e parentes), guitarra e bateria - que poucas vezes casam com tanta propriedade.

3 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

quando os ouvi, já faz algum tempo, achei-os curiosos, mas demasiado técnicos, talvez um pouco mais de organização melódica e tínhamos um album mais consistente. Fica para a próxima...

Unknown disse...

Concordo contigo. Aliás, como escrevi no artigo, acho que o que lhes falta é mesmo um pouco mais de sentido melódico. Mesmo assim, acho este Battles Olé uma peça tecnicamente irrepreensível e algo que merece uma escuta, especialmente daqueles melómanos que não conhecem os Drums & Tuba.