sábado, 22 de julho de 2006

Islands - Return to the Sea

Apreciação final: 8/10
Edição: Rough Trade, Abril 2006
Género: Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.islandsareforever.com








O Canadá não cessa de trazer-nos boas novas. Depois dos Arcade Fire, dos Broken Social Scene, dos Clap Your Hands Say Yeah, dos New Pornographers, dos Wolf Parade, dos The Stills e do projecto Destroyer (Dan Bejar), em estilos distintos, se terem afirmado além-fronteiras nos tempos mais recentes, chegou agora a vez do ensemble Islands tentar, pela mão da Rough Trade, aliciar os mercados exteriores. Com ascendência no extinto e saudoso trio The Unicorns, projecto de onde procedem a guitarra/voz de Nick Diamonds e a bateria de J'aime Tambeur, o recorte da música dos Islands é uma alucinação imposta. Com raízes em estrofes pop efusivas e padrões psicadélicos, cada composição da dupla canadiana é um caleidoscópio quase imaterial, um abismo de vigores confluentes que especulam sobre uma orgânica instrumental com poliglotismo musical. O ambiente denso dos trechos é uma mescla de pop erudita, de country presumido, de electrónica subserviente, até de um miúdo trejeito hip-hop e muitas outras operações que se pressentem, não fazem discurso directo, antes se passeiam nos bastidores, ao jeito de arranjos. São elas: um sensível embalo pastoral, uma ficção honky-tonk, um tropicalismo com saudade, um adágio jazz e tudo o que mais se adivinha nos tecidos de Return to the Sea. Tudo arrumado com uma produção soberba e sem excessos, a facilitar o acesso do ouvinte a música de alcance ilimitado. Uns furos acima do pudor e do ruído dos Unicorns.

Return to the Sea não é disco para canais auditivos preguiçosos que se deleitam com a pop aprumada e recta. Esse não é o tabuleiro de jogo de Diamonds e Tambeur. Eles gostam de jogar inocentemente com as virtudes do som, de o puxar às proporções máximas do coração indie e, com isso, multiplicar melodias pomposas. No limbo entre o génio e néscio, Return to the Sea é uma incitação dúbia ao ouvinte: ou se deixa contagiar pelos dons destas canções e se abeira da genialidade, ou se mete a bordo de uma nau imbecil e descobre que, por detrás de um mágico trecho musical, há um imaginário delirante e absurdas quimeras. Em qualquer dos casos, os Islands estão no seu melhor. Resta-nos deixá-los voltar ao mar. A genialidade já a têm. E que levem consigo a matéria de que se fazem canções pop do melhor que se viu neste ano.

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