sexta-feira, 29 de junho de 2007

Goran Bregovic - Karmen (With a Happy End)




Se há compositor imediatamente associado aos sons dos Balcãs, ele é o bósnio Goran Bregovic. A "culpa" desse nexo instantâneo é dos inesquecíveis trilhos sonoros que imprimiram outras dimensões do bizarro aos ímpares universos das fitas do premiado realizador sérvio (também ele, um músico) Emir Kusturica. Dono de uma extensa discografia dedicada essencialmente à divulgação da música cigana da sua terra-natal, Bregovic acabaria por afirmar-se como um dos mais respeitados compositores do leste europeu e, por inerência, um dos porta-vozes da herança musical e cultural dos Balcãs. Ele é um genuíno esteta do alcance celebrativo dos clássicos ensembles de sopros da europa oriental - legado histórico das grandes orquestras militares dos decanos impérios - e dos sublinhados corais da mais pura tradição das festas gitanas. No novo trabalho, o maestro inspirou-se na intemporal ópera de Bizet e reconta a história do amor impossível entre a caprichosa Carmen (a cigana, lá está!, que captura os homens pelo coração) e o pacato sargento Don José, imprudentemente vencido pelos dilemas morais de uma paixão obsessiva. As referências estruturais à obra de Bizet ficam-se, sobretudo, pelo vago recurso a um ou outro apontamento melódico próximo dos fraseados originais e, claro, nas insinuações cenográficas que rapidamente se instalam no ouvinte conhecedor do libretto primário. Mais do que isso, Karmen (With a Happy End) desvenda uma curiosíssima (e elegante) volubilidade emocional, como se os trechos marcassem o compasso dos sentimentos de um enredo que afinal não existe, pontuando-lhe altos e baixos e, com isso, configurando as chicanas de um argumento imaginário. No final, o remate festivo de "Lamour" é insuspeito: na Karmen de Bregovic não há lugar para as lágrimas da desventura. De ópera só um bocadinho, porque a charanga não pode parar!

Posto de escuta (Real One Player) Gas GasPampur GalbenoKoferi

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