domingo, 10 de junho de 2007

Kalabrese - Rumpelzirkus

8/10
Stattmusik
2007
www.myspace.com/kalaspatz



Dele pouco mais se conhecia do que um 12'' ("Chicken Fried Rice", editado há três anos pela Perlon) que conheceu relativo êxito além das fronteiras helvéticas, especialmente à custa do magnífico loop de guitarra processada que dava corpo ao tema-título. Já aí, nesse quarteto de composições, se adivinhavam, ainda que com uma expressão menos apurada, as premissas estéticas de um idioma sonoro afecto à matriz sincopada do house minimalista, mas com inúmeras referências colhidas noutros universos. Em compassos lentos, quase arrastados, o suiço Sascha Winkler (é ele o cientista por detrás do cognome Kalabrese) acerca-se de um certo padrão abstracto da música funk "clássica", captando-lhe as dimensões de relaxe (derivações do genoma dub) e embrulhando-as num curioso mosaico digital (embora muitas das substâncias investidas sejam mais orgânicas do que soam), com algo de futurismo e, ao mesmo tempo, de ciência antiga. Ouça-se, a título de exemplo, a assombrosa construção de blues e anémico tribalismo de "Heartbreak Hotel". E assim segue a caravana de canções, livre e pejada de surpresas, sem formalismos técnicos, com inventividade e um harmonioso sentido de proporção. Sem uma pérola imediatamente contagiante como "Chicken Fried Rice", Rumpelzirkus é, sobretudo, um produto monolítico e vale-se da soberba consistência (e do element of surprise) para evitar o enfado dos padrões 4/4 e, mais do que isso, fazer dessa estruturação rítmica um esteio útil para noções desenvoltas de canção, a fazer lembrar o melhor de Matthew Herbert ou Ricardo Villalobos. Mas com uma identidade própria e que, mais tarde ou mais cedo, gozará do reconhecimento que lhe é devido.

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