quarta-feira, 6 de junho de 2007

Marilyn Manson - Eat Me, Drink Me

7/10
Nothing Records
2007
www.marilynmanson.com



No hiato de quatro anos desde a última edição discográfica do muito discutido (e controverso) Marilyn Manson (Brian Warner no B.I.), a vida pessoal do músico experimentou algumas convulsões, a mais mediática das quais foi o súbito remate do envolvimento de sete anos (dois em laço matrimonial) com a voluptuosa playmate Rita Von Teese e a posterior aproximação à actriz Evan Rachel Wood. Essa promiscuidade emocional não terá sido indiferente à composição de Eat Me, Drink Me, um registo revelador de uma impressão mais pessoal (é Manson que assina todas as composições, com ajudas pontuais de Tim Skold) e intimista e que, nas palavras do próprio músico, é "o álbum da sua vida". No fundo, contrariando a linha de personas (o anticristo de Anti-Christ Superstar, o Omega 5, de Mechanical Animals, o holocausto de Holy Wood ou a estrela decadente e impudica de The Golden Age of Grotesque) com que consecutivamente se afirmou como símbolo de uma certa degeneração hedonista e iconoclasta (o que, ironicamente, veio a fazer dele próprio um ícone...), Manson aparece agora sem a máscara de uma personagem projectada para um determinado fim mediático. Nesse sentido, Eat Me, Drink Me desvenda a autenticidade por detrás do conceito e das pantomimas, coisa que faltou noutros trabalhos e que, em último caso, certifica um músico crente na sua arte (e inerentes idiossincrasias) e que, refeito dos ecos do massivo tropel condenatório que se seguiu ao massacre de Columbine (1999), ressurge num registo mais imediato (também estruturalmente menos "pesado"). Ainda que retendo os ritualismos de celebração do lado negro da vida e as metáforas góticas, as canções fogem da previsibilidade dos últimos álbuns, sem os riffs ziguezagueantes e a percussão pendular (essa combinação alimenta "Are You the Rabbit?" e, menos notoriamente, "Mutilation Is The Sincere Form Of Flattery", as duas faixas mais próximas dos cânones Manson) nem os exageros cosméticos do costume e, sobretudo, dando provas de um compromisso melódico mais efectivo, longe da pompa industrial dos trabalhos anteriores (a excepção, à Nine Inch Nails, é "You and Me and the Devil Makes 3"). Afinal, há vida por detrás dos disfarces e há alguma música além da ira gratuita. A assinatura do opus mais consistente da demónica sigla MM nos anos mais recentes é, afinal, de Brian Warner.

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