Ainda que ciclicamente ignorado pelos primeiros mercados da indústria discográfica no exterior do seu país, o canadiano Antoine Bédard (o homem que assina como Montag) vem construindo um interessante ânimo reformista dos paradigmas da canção pop. Embora conhecendo, há cerca de cinco anos, uma jornada inicial (apenas com edição nacional canadiana) formalmente menos resoluta e especialmente vocacionada para o experimentalismo com as texturas electrónicas que, ainda hoje, pontuam o seu trabalho, Bédard foi avançando para peças menos abstractas, adaptando as suas especulações digitais a formatos mais próximos da ideia de "canção". Alone, Not Alone, de 2005, dava já sinais firmes e inquestionáveis de uma mistura de sons mais estruturada, embora a primazia das matérias de síntese ainda encobrisse o fôlego pop das composições. Para superar essa relativa opacidade dos trechos (as mais das vezes, em claro prejuízo da sua eficácia melódica), nada melhor do que chamar alguns amigos do orbe musical. A lista é interessante: Owen Pallett (o bizarro trovador do projecto Final Fantasy), as Au Revoir Simone ("meninas bonitas" da indie pop americana corrente), Anthony Gonzalez (o francês que, depois da partida de Nicolas Fromageau, assumiu sozinho os ambientes do conceito M83), Amy Millan (a voz dos conterrâneos Stars) e Victoria Legrand (voz dos Beach House e sobrinha do compositor francês Michel Legrand).
No global, Going Places embrulha num revestimento electrónico de fino recorte (não obstante um ou outro exagero kitsch de sons de vídeojogo - ouça-se "Best Boy Electric"), um interessantíssimo sublinhado 60's e pontuais momentos de impacto cinematográfico (com a orgânica de pequenas sonatas), umas vezes tentando reflexos mais amplos e grandiosos, noutras buscando um certo resguardo minimalista. Um pormenor: a faixa título do disco é (alegadamente) um mosaico de sons recolhidos numa convocatória aberta (no sítio do músico) a todos os que quiseram dar o seu contributo. A apreciação que é devida a esse trecho serve também de resumo às artes do álbum: sopros curiosos sobre formas modernas da pop com alguns méritos (as melhores faixas são as que contam com presenças vocais além do monótono registo de Bédard), mas nem todos necessariamente (ou igualmente) profícuos.
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