Deles se conhecem as origens americanas sulistas, lá do mesmo estado do Tennessee historicamente castigado pelos confrontos da Guerra da Secessão e onde, rezam as crónicas, se propagou um fôlego criativo quase ímpar na história da música americana, desde os primeiros anos do século XX. Do simbolismo da capital Nashville (ainda hoje considerada a metrópole por excelência da música country dos Estados Unidos), ao recrudescimento de Memphis (ventre de B.B. King e do seminal selo Sun, durante anos a casa editorial de gente como Johnny Cash, Muddy Waters, Howlin' Wolf ou Elvis Presley) como um dos estandartes do movimento blues, o estado dos voluntários é, hoje, um dos pontos cardeais de algumas das expressões musicais mais genuínas da alma americana. Sediados na facção oriental de Nashville (embora com proveniências díspares dos seus integrantes), os Black Diamond Heavies começaram por ser um trio, até o guitarrista Mark Holder renunciar à vida errante de músico, depois da edição do EP You Damn Right, de 2004. De então para cá, John Wesley Myers (teclas e voz), senhor de um portento vocal vizinho de Tom Waits, e Van Campbell (baterista) entregaram-se sozinhos ao encargo de escrever (e interpretar) blues de garagem, reduzidos aos aromas mais crus e penetrantes do género e embrulhados num invólucro de pura jam session. Quem os viu ao vivo (e já passaram por cá, no Festival Internacional de Blues de Coimbra), sabe do que estes dois virtuosos são capazes de fazer sem aparato (não precisam de mais de 15 m2 de palco...), e munidos apenas das mais singelas ferramentas da tradição blues. Esse espírito é também a medula de Every Damn Time, com rebeldes e acerbas discussões de sons, na toada sincopada de padrões blues, entre o velhinho Fender Rhodes (ou outras teclas) de Myers e a enleante percussão de Campbell. É daí que emerge um fluido tremendamente consistente e ruidoso, um misto de composições originais e duas revisões, com impressionante crueza e desembaraço. E força sedutora para trazer os blues para o novo século. Único senão para este tesouro improvável: a colagem abusivamente evidente de Myers às entoações cavernosas e diversas nuances vocais de Tom Waits.
sábado, 16 de junho de 2007
Black Diamond Heavies - Every Damn Time
Deles se conhecem as origens americanas sulistas, lá do mesmo estado do Tennessee historicamente castigado pelos confrontos da Guerra da Secessão e onde, rezam as crónicas, se propagou um fôlego criativo quase ímpar na história da música americana, desde os primeiros anos do século XX. Do simbolismo da capital Nashville (ainda hoje considerada a metrópole por excelência da música country dos Estados Unidos), ao recrudescimento de Memphis (ventre de B.B. King e do seminal selo Sun, durante anos a casa editorial de gente como Johnny Cash, Muddy Waters, Howlin' Wolf ou Elvis Presley) como um dos estandartes do movimento blues, o estado dos voluntários é, hoje, um dos pontos cardeais de algumas das expressões musicais mais genuínas da alma americana. Sediados na facção oriental de Nashville (embora com proveniências díspares dos seus integrantes), os Black Diamond Heavies começaram por ser um trio, até o guitarrista Mark Holder renunciar à vida errante de músico, depois da edição do EP You Damn Right, de 2004. De então para cá, John Wesley Myers (teclas e voz), senhor de um portento vocal vizinho de Tom Waits, e Van Campbell (baterista) entregaram-se sozinhos ao encargo de escrever (e interpretar) blues de garagem, reduzidos aos aromas mais crus e penetrantes do género e embrulhados num invólucro de pura jam session. Quem os viu ao vivo (e já passaram por cá, no Festival Internacional de Blues de Coimbra), sabe do que estes dois virtuosos são capazes de fazer sem aparato (não precisam de mais de 15 m2 de palco...), e munidos apenas das mais singelas ferramentas da tradição blues. Esse espírito é também a medula de Every Damn Time, com rebeldes e acerbas discussões de sons, na toada sincopada de padrões blues, entre o velhinho Fender Rhodes (ou outras teclas) de Myers e a enleante percussão de Campbell. É daí que emerge um fluido tremendamente consistente e ruidoso, um misto de composições originais e duas revisões, com impressionante crueza e desembaraço. E força sedutora para trazer os blues para o novo século. Único senão para este tesouro improvável: a colagem abusivamente evidente de Myers às entoações cavernosas e diversas nuances vocais de Tom Waits.
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