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Ao escutar Antes & Depois, tomo de estreia dos Dr. Salazar, pula na memória a mais sensível das referências da banda amadorense, os Mão Morta. A simetria é mais evidente nos vocais de Manuel d'Albuquerque, tão desabridos quanto os melhores momentos de Adolfo Luxúria Canibal, sempre mais próximos da oratória do que do canto. A poética não encontra tabus, é directa (menos figurada do que nos Mão Morta) e, em claro propósito sedicioso, não enjeita um ou outro lance mais polémico. É, contudo, na porção instrumental que o disco vinca a sua personalidade. A sonoridade é crua e confina com a dinâmica estrutural do metal industrial, com riffs abertos e cadências de galope firme, imperando o refinado sentido de proporção da banda na forma como se combinam essas substâncias, com óbvias benfeitorias da produção. Escutando o álbum de fio a pavio, percebe-se, ainda assim, que o corpo conceptual das composições, não sendo estéril, é espartano demais para se livrar da previsibilidade. Mas há, em Antes e Depois, matéria suficiente para dar crédito aos Dr. Salazar e ficar atento aos próximos capítulos.
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