sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Linda Martini - Turbo Lento


7,9/10
Universal, 2013

Fez-se senso comum que o "salto" de um músico do circuito perifério das pequenas editoras para uma major, com as exigências mercantis do alargamento da distribuição, tende a tingir-lhe a integridade. A recente migração dos Linda Martini para o catálogo da Universal, companhia magna do espectro editorial, relançou esse debate por antecipação, muito antes da chegada deste Turbo Lento, terceiro longa-duração dos lisboetas. Além da mudança de selo e da natural especulação sobre eventuais ingerências no processo criativo, o álbum tem também sobre si o ónus de suceder a Casa Ocupada que, há três anos, firmou definitivamente a marca do grupo como um dos mais inventivos ensembles do rock alternativo nacional.

Independentemente de considerações comparativas, Turbo Lento é uma catatónica exposição de estados de espírito,  um quadro de pinceladas grossas com rumos esquizofrénicos entre o turbo (a urgência importada do punk) e o lento (a tela pós-rock que serve de base), o sufoco e a placidez. Nesse sentido, o álbum é um puro desassossego Linda Martini, a consequência natural de dez anos de um percurso sereno, sem delírios de grandeza e com a certeza de um código musical que, passadas as hesitações da partida, encontra a derradeira emancipação, sem ter saído da garagem. O mesmo palco de motins que concentra a ferocidade latejante de sempre, o vigor que a regenera e o rescaldo pulsante, em busca de apaziguar. Mas, afinal, é lá que dormem os ratos.

PODE LER ESTE E OUTROS CONTEÚDOS EM WWW.ACPINTO.COM

Sem comentários: