Apesar de ser um dos mais seguidos protagonistas do orbe electrónico, Kieran Hebden conseguiu uma coisa rara para os dias de hoje: lançar um compacto novo sem que ninguém o antevisse. Com efeito, Beautiful Rewind apareceu em surdina e logo motivou - sobretudo por força do single "Kool FM" - um (aturdido) tropel de opiniões e curiosidades, como seria expectável quando se trata, como é o caso, de alguém com uma discografia muito sólida e urdida em torno de uma linguagem musical culta na gestão de samples e no experimentalismo electrónico. Além disso, o facto de o primeiro avanço do álbum se apossar do nome da mítica estação de rádio londrina (à data, pirata) que, no começo da década de 90, deu expressão ao movimento jungle, lançou pistas sobre uma incursão Four Tet a esse legado musical. Em teoria, qualquer matéria dançável "encaixa" na inspiração empirista de Hebden e nem as mais anacrónicas ficam fora de órbita. Com efeito, o resgate de fórmulas aparentemente estafadas (veja-se o caso dos Disclosure, por exemplo) parece ter-se tornado moda recente. Old is the new New. Restaria saber como o ordenamento jungle baralharia a ética musical Four Tet, ao trazer-lhe a persistência em breakbeats orgânicos (feitos de manipulações de som real) por oposição às induções sintéticas tão caras a Hebden, ao secundarizar a melodia e, mais do que isso, ao sugerir o discurso hirto dos MC's da época.
A redundância nunca foi problema para Hebden, pelo que conceptualmente não há conflito de interesses, ou não fosse ele um dos artesãos mais hábeis no jogo de samples. O recurso às batidas sampladas também não é elemento crítico; pelo contrário, até se revela um recurso utilíssimo para emprestar uma palpitação diferente ao som Four Tet. É precisamente aí, na veemência da pontuação rítmica, também nas interferências vocais de algumas faixas, que Beautiful Rewind nos desvia do universo pastoral do costume, tornando este o disco mais tenso de Hebden. Os seguidores indefectíveis do londrino podem não ficar rendidos, nem o registo terá a coesão do costume, mas não deixa de ser um tomo de boa música.
A redundância nunca foi problema para Hebden, pelo que conceptualmente não há conflito de interesses, ou não fosse ele um dos artesãos mais hábeis no jogo de samples. O recurso às batidas sampladas também não é elemento crítico; pelo contrário, até se revela um recurso utilíssimo para emprestar uma palpitação diferente ao som Four Tet. É precisamente aí, na veemência da pontuação rítmica, também nas interferências vocais de algumas faixas, que Beautiful Rewind nos desvia do universo pastoral do costume, tornando este o disco mais tenso de Hebden. Os seguidores indefectíveis do londrino podem não ficar rendidos, nem o registo terá a coesão do costume, mas não deixa de ser um tomo de boa música.
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