quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Deafheaven - Sunbather


8,4/10
Deathwish, 2013

É um facto que uma fatia significativa dos seguidores do fenómeno musical alternativo continua refém de preconceitos mais ou menos assumidos e que se fecham repetidamente a qualquer manifestação oriunda do universo metal, nas suas milhentas ramificações. Trata-se de um sectarismo instalado - e que também se estende a parte da crítica especializada - e que raramente abre brechas para dar visibilidade a um produto discográfico dessas origens tidas como menores. E se é certo que um quinhão importante desse divisionismo se deve também à natureza de nicho de sonoridades que são vocacionadas para públicos muito específicos e neles se esgotam, não é menos verdade que existem inúmeros exemplos de protagonistas do metal com vistas mais largas e capazes de produzir música que galga essas barreiras conceptuais. O exemplo do segundo álbum dos americanos Deafheaven é paradigmático de duas coisas: o crescimento do conceito estético da banda e, depois, o reconhecimento generalizado (de crítica e público) da fórmula experimentalista com que se recreiam nos ambientes do dark metal. Relativamente ao segundo aspecto, a banalização deste Sunbather nas listas de final de ano será uma certeza.

Quanto ao desenvolvimento artístico da banda, usando a referência do debute (quase incógnito) de há dois anos, mantém-se a curiosa mistura, sem discrepâncias: belíssimas texturas de guitarra pejadas de ambientalismo pós-rock, com acelerações rítmicas importadas do dark metal, as aparições (oportuníssimas) das blastbeats e a erosão agonizante da voz de George Clark. Até aqui, tudo igual, na elegante alternância entre os momentos tétricos, necessariamente carregados de negrura e acidez, e a maravilhosa contraparte de lugares mais serenos, de casta contemplação. A ampliação de Sunbather relativamente ao antecessor prende-se com um cuidado acrescido a tricotar os instrumentais, com uma produção mais refinada (e potenciadora dos contrastes ambientais do disco) e, acima de tudo, um vigor reforçado nas energias emocionais postas em cada peça. Nesse sentido, é um registo mais volumoso e intenso. A ciência oculta dos Deafheaven redimensiona-se na sua própria ambivalência e que Clarke resumiu na mouche em recente entrevista: "é o nosso trabalho mais negro e mais luminoso". E é exactamente isso que dá a este disco a imunidade a qualquer preconceito estético.

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