quarta-feira, 2 de julho de 2008

Fleet Foxes - Fleet Foxes

8/10
Sub Pop
Popstock
2008
www.myspace.com/
fleetfoxes



O debute discográfico dos Fleet Foxes chega aos escaparates nacionais envolto numa aura curiosa. Depois de duas curtas demonstrações das linhas com que se cose, em EP's convertidos em objectos de culto junto das franjas mais alternativas da comunidade melómana, o quinteto de Seattle mostra-se num registo que mereceu rara sacralização de algumas das mais solenes publicações especializadas de música a nível internacional, sobretudo por se tratar um produto estreante. Mediatizados em larga escala, pelo menos em território americano, como um dos mais estimulantes projectos da folk corrente, em alguns casos até visados (justamente, diga-se) como herdeiros contemporâneos de um certo barroquismo "clássico", os Fleet Foxes souberam integrar-se nessa corrente musical algo órfã de descendências modernas, recuperando-a para o primeiro plano da música americana e dos gostos dos melómanos. Fleet Foxes é, como podia esperar quem conheceu os EP's prévios, um exercício colector (e nostálgico) de influências de vários quadrantes dos anais do rock clássico e da folk tradicional. A pureza melódica é uma trave-mestra, sobretudo nos esplendorosos jogos vocais do álbum e na ambição das construções instrumentais e dos arranjos. Nas memórias invocadas pelo disco, e são muitas, cabem cerimoniosos fragmentos dos "inventores" da folk emocional - leia-se Neil Young, Bert Jansch, mesmo Donovan ou o incontornável quarteto de mestres Crosby, Stills, Nash & Young - e do melodismo sessentista dos Beatles ou dos Zombies; cabem também preitos à alma Motown, ao proto-psicadelismo dos Love, aos enleios vocais dos Beach Boys, ao esoterismo da Incredible String Band e às fantasias progressivas dos Jethro Tull. A surpresa mora na sublime junção de semelhante família de sons que, mais do que meramente adir partes num concentrado denso de neoclassicismo, produz uma colecção de canções genuínas numa identidade própria feita de simplicidade, de beleza pastoral e barroca, de orgulho na tradição, mas capazes de respirar ares actuais e intemporais. E isso é muito mais do que subir ao sótão e tirar o pó ao baú de recordações.

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