Não é todos os dias que a descoberta de um disco proporciona a excitação de privar com um produto de originalidade. No caso dos Wild Beasts, quarteto de caloiros-revelação do setentrião inglês, a erupção da surpresa sobrevém em duas formas. A primeira - que por ser "superficial" é uma saliência notória nas primeiras audições - deriva directamente da insistência no dramático falsetto de Hayden Thorpe (excelente voz, sem dúvida!), a fazer lembrar, como num sucedâneo em moldes pop, o trejeito canoro de uma opereta. Atrás dessa admirável sugestão da voz de Thorpe (que será, decerto, um dos factores decisivos para definir afinidades com o disco), desfilam as outras faces da surpresa, as pormenorizadas, faustosas e muito conscientes texturas instrumentais, algures entre a elevação barroca que celebrizou Rufus Wainwright, a ciência dos cânones do moderno psicadelismo (leia-se volubilidade estética entre o tribalismo, os meneios vaudeville, a dança de cabaret, o melodismo jazz ou a arquitectura "clássica" da ópera-rock) e, também, a doçura rústica das gerações hodiernas da folk e os cenários da pop etérea dos 80's.
Em concreto, o verdadeiro mérito da massa musical dos Wild Beasts nem sequer é a inovação - as coisas de que é feito Limbo, Panto não são propriamente inauditas. É, ao invés disso, o admirável engenho de erguer monumentos pop com o melhor de cada um dos mundos estéticos de referência e dar-lhes um cunho pessoal único e orgulhoso que os distingue. O que se escuta no álbum é de uma autenticidade rara, por mais que tentem encontrar, nas entrelinhas da música dos Wild Beasts, pedaços dos Smiths, de Sparks, dos Orange Juice, dos Triffids, dos Shins ou de Antony Hegarty. Teatral, subtil, eufórico, ambicioso e orquestralmente sumptuoso, Limbo, Panto não será um disco consensual, como nunca o seria um produto de quatro jovens nos primórdios dos vintes, amantes de Dickens, do bizarro, do melodrama cénico e do fauvismo (o nome da banda é uma importação da escola de arte francesa), mas tem tudo para dar aos Wild Beasts o heróico epíteto de revelação do ano. E pérolas como "The Devil's Crayon" (um dos indiscutíveis momentos magnos do ano) afastam qualquer preconceito de intelectualismo que queiram colar-lhes.
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