quarta-feira, 23 de julho de 2008

Leila - Blood, Looms and Blooms




O percurso artístico de Leila Arab é indissociável do nome de Björk. Primeiro como teclista de suporte da mediática islandesa, depois assistindo-a na função de co-autora de algumas composições, a iraniana Leila foi ganhando visibilidade no povoado orbe da música electrónica, a ponto de estrear-se, como compositora em título próprio (e uma das raras autoras femininas do género a não usar a sua voz em gravação), há uma década, com Like Weather. Então apadrinhado pelo selo de Richard D. James (Aphex Twin), a Rephlex, o disco desvendava uma curiosa mescla entre orgânicas left-field - muito próximas das estirpes "intelectuais" e mais elaboradas da música electrónica - e um transversal eclectismo estético, mormente na construção das melodias. Com efeito, embora não se tratando, à época, de um facto pioneiro, podia falar-se de um processo pouco convencional (mas razoavelmente bem conseguido) de encontrar convergências entre as sempre especulativas (e densas) manobras de manipulação digital e a contingência de as arrumar numa estrutura de canção com voz. Ao segundo capítulo (Courtesy of Choice, 2000, XL), Leila arriscou alargar o espaço de experiências de pop vanguardista e diminuir-lhes a tensão introspectiva, mas a crítica não se rendeu à troca da técnica pela forma.

Blood, Looms and Blooms chega-nos oito anos depois desse passo em falso, também depois de intensa actividade junto de Björk, tanto em palco (grande parte dos concertos da tournée de Volta tiveram Leila na abertura) como em disco. E a mudança para o catálogo da Warp, domicílio editorial de gente como Flying Lotus, Jamie Lidell, Plaid, Autechre ou Battles, parece ter funcionado como um estímulo oportuníssimo para Leila. É justo dizer-se: o selo inglês é, entre outras coisas, um seguro baluarte para algumas das mentes mais transgressoras (ou imaginativas) da electrónica contemporânea e o passado (e sobretudo o background) de Leila, não obstante as contingências de ter uma discografia curta, era uma premissa abonatória da sua adesão à família Warp. E se dúvidas existissem ainda, Blood, Looms and Blooms está aí para as dissipar. O terceiro registo de Leila é o mais lúcido (e transparente) da sua carreira. Tecnicamente muito bem urdido e detalhado, a puxar à sedução pelo efeito-surpresa e pela profanação das convenções instituídas, o disco é formalmente desprendido (deixou de ser importante falar-se em "canções") e mostra uma verve capaz de soltar a rédea em padrões estéticos vários, de tocar tangencialmente outros tantos e não perder o sentido de coesão. Afinal, a linguagem musical é a de Leila (com as presenças vocais da irmã, Roya, de Luca Santucci, de Terry Hall e Martina Topley-Bird), tão intrigante e complexa como antes, tão fértil e cativante como sempre a conhecemos. E mesmo que, aqui e ali, Blood, Looms and Blooms se desvie da rota e cometa o pecadilho de ser extenso demais, não deixa de ser um enunciado das virtudes de Leila e uma boa forma de lhe dar a merecida notabilidade.

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