Quanto mais se generaliza a fatalista (e necessariamente redutora) perspectiva de que o orbe pop é um mundo saturado e crescentemente insípido, mais se manifestam protagonistas capazes de a contradizer. A revelação mais recente chega-nos da distante Suécia (embora tenha vivido uma parte da infância em Lisboa), tem a frescura e a jovialidade de alguém com vinte e dois anos e a timidez de uma estrela anunciada com medo da fama, é cultora de gostos mutantes - que vão de Kate Bush, a Velvet Underground, a Amy Winehouse, ao hip hop de última geração (leia-se Clipse e Dizzee Rascal), aos Suicide e ESG - chama-se Lykke Li (diz-se Lica-Li) e assina um disco de estreia de pop simples, açucarada e com substrato electrónico. Gravado em Nova Iorque com a ajuda de Björn Yttling (dos conterrâneos Peter, Björn and John), Youth Novels é, atrás da copiosa panóplia de instrumentos convocados, um disco de princípios estruturalmente minimalistas. O diapasão das melodias é a voz melíflua de Lykke Li que, mesmo com espectro estreito e pouco dada a aventuras de tom, transmite harmonia e suavidade às magníficas texturas que a servem. Trata-se, sobretudo, de uma visão pragmática (e certeira) da proporção do binómio voz/arranjos - ainda passível de afinações, é certo - mas que se confunde com um saudável princípio de sobriedade estética. Depois, as canções derivam pontualmente do curso temático natural da ambivalência romântica (as luzes e sombras do amor) e, aí, mostram outras caras não menos sedutoras de Lykke Li, mais dançantes ou mais introspectivas (até cabem duas despropositadas faixas em spoken word), mais folk ou mais electro.
Em suma, Lykke Li é uma adição oportuníssima às safras recentes da música escandinava (Peter, Björn and John, El Perro del Mar, Taken By Trees ou Robyn), mas tem leituras dúbias: a economia orgânica, ao depositar nos méritos canoros de Li o vigor das composições, se resulta esplendidamente em alguns trechos ("Little Bit" ou "Breaking Up"), acaba por jogar em manifesto desfavor de outros. E, ao mesmo tempo, o entusiasmo de alguns momentos mais preenchidos (como a mediática "I'm Good. I'm Gone"), faz crer que na filosofia musical de Lykke Li também devem caber substâncias mais venturosas do que o minimalismo. Em todo o caso, Youth Novels é um debute muito promissor.
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