sábado, 26 de julho de 2008

CSS - Donkey

5/10
Trama
2008
www.csshurts.com



A instantânea entronização do colectivo Cansei de Ser Sexy como projecto mais mediático da moderna música brasileira foi um exercício de confirmação da improbabilidade. Corria o ano de 2003 (e os seguintes) e, atrás de um crescente burburinho, primeiro nas ondas cibernéticas e, depois, no seguimento de actuações nos palcos e festivais mais frequentados do Brasil (e além-fronteiras), paulatinamente se ergueu uma vaga sacralizadora de uma trupe de músicos tecnicamente pouco talentosos e cujas composições encerravam, em tosca simplicidade, um conjunto de sabores incomuns no cenário musical brasileiro. A afirmação da originalidade - se quisermos, de uma transversalidade estética com um único denominador comum: o substrato electrónico - prevalecia sobre a presumivelmente imprescindível valoração da técnica, como se, para ser-se reconhecido no orbe musical, nem fosse necessário ir além da fasquia mínima da execução instrumental. Aliás, seria exactamente essa rudimentar lapidação dos trechos, em último caso, a motivar amores/ódios à volta do sexteto (agora quinteto) paulista e a torná-lo um fenómeno ímpar na música urbana e um dos mais mediáticos descendentes da geração net fora da Europa.

Com a agenda absolutamente atestada nos últimos anos e o inevitável aprimoramento da execução instrumental dos elementos do grupo, é um facto que dificilmente podia esperar-se que Donkey repetisse a incipiência técnica do antecessor. A audição do álbum confirma essa premissa perigosa para os CSS: ao sumir-se a inocência técnica, ficaria hipotecado um quinhão decisivo dos factores de sucesso do primeiro disco. No caso das CSS, o refinamento técnico envolve ironicamente um desinvestimento no ingénuo diletantismo com que fizeram as canções que os trouxeram ao topo da música brasileira. Donkey é notoriamente um produto mais evoluído do ponto de vista instrumental, não restam dúvidas de que regista música feita com uma ciência mais apurada e longe da pubescente ética do primeiro disco. E é aí que muda o prisma de avaliação do trabalho das CSS. Se, antes, gostando ou não, se perdoava a impolidez e um certo atabalhoamento técnico dos trechos, em nome da atitude desconcertante e enérgica de "músicos" inexperientes (mas criativos) em demanda do seu espaço, com a maturação técnica é incontornável redobrar a exigência sobre as canções enquanto produto artístico. Nesse particular, por ter-se dissipado o elemento nuclear de singeleza que interessava na música das CSS, Donkey torna-se um disco redondo, previsível e inconsequente. Perdida a magia da descoberta quase juvenil da música e do rudimentar experimentalismo que escondia as fragilidades da composição, as canções expõem uma confrangedora efemeridade. Sair da puberdade é uma chatice.

Posto de escuta MySpace

Sem comentários: