terça-feira, 8 de julho de 2008

Tricky - Knowle West Boy

6/10
Domino
2008
www.trickyonline.com



Os últimos anos de Adrian Thaws têm invariavelmente assinalado a demanda do músico inglês para se libertar do oneroso peso de um rótulo. Desde sempre conotado, mesmo contra a sua própria vontade, com as esferas do trip hop, o reconhecimento de Tricky junto das massas críticas acompanhou a evolução desse movimento estético, erguendo-o à instantânea sacralização no início do percurso a solo (depois da ambígua relação com os Massive Attack), em época de êxito conjuntural do trip hop, para depois, com a visibilidade menor do género, o empurrar para o quase esquecimento que os sucessivos débâcles discográficos ajudaram a confirmar. É nesse torpor mediático que Knowle West Boy experimenta nova terapia de ressuscitação daquele que, em tempos idos, foi um dos provocadores de excelência dos anos 90. O disco põe termo a um cauteloso silencioso de cinco anos e, como os seus antecessores mais recentes, é um alvoroço de tensões interiores próprias de um espírito turbulento que, chegado aos quarenta, já não esconjura os demónios do caos urbano, antes os aceita e tenta refrear. Da ansiedade hipnótica e do nervo negro e angustiado de outros tempos, restam aqui meras sombras ("Past Mistake" é o descendente mais próximo). Tricky (e a sua música) é, hoje, um agente menos de causas e mais de efeitos; continua a ser um insurgente atento, mas está menos agudo. Ao invés de assumir-se, na sua improbabilidade criativa, como um líder de rebeliões, converteu-se num seguidor das tribos urbanas globalizadas da nova década, onde as mesclas sonoras que ele próprio inaugurou a contento de uma geração são uma vulgaridade e um discurso comum. E, perante o adensamento de propostas desse género e a ascensão de outras linguagens narradoras das crises metropolitanas desta era, sobram menos espaços úteis para os exorcismos de Tricky. Ainda assim, Knowle West Boy é a mais competente (e esquizofrénica) declaração de vitalidade de Adrian Thaws desde os "dourados" anos 90. Mas não parece ainda bastante para reatar uma chama conservada a meio-gás nos últimos anos.

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