sexta-feira, 27 de junho de 2008

Deolinda - Canção ao Lado

8/10
iPlay
2008
www.deolinda.com.pt



Desencontrado das correntes artísticas que vêem o fado como uma inspiração fatalmente eivada de taciturnidade e do peso emocionalmente denso da saudade, o projecto Deolinda reconhece-se na canção tradicional portuguesa, pelo menos enquanto referência estética, mas inunda-a de luminosidade, de júbilo e de energias positivas. O que propõe Canção ao Lado, exercício de debute do quarteto lisboeta, é uma saudável desmistificação de uma das mais finas tradições musicais lusas, a fazer lembrar as especulações pioneiras dos Madredeus, de há uns anos atrás. Aqui, escuta-se fado feito de melodias alegres e de cantares soltos, com letras revestidas pela leve comicidade de uma ou outra caricatura social de um Portugal de qualquer tempo. Em termos instrumentais, no minimalismo textural do disco, não deixa de ser curioso perceber como se produz fado sem recorrer à guitarra portuguesa, "falsificando-lhe" os trejeitos em duas guitarras clássicas, a que se une o contrabaixo. Depois, há Ana Bacalhau. Apartada dos caprichos psicóticos que deliciosamente mostrara nos Lupanar, ao jeito da saudosa Anabela Duarte e dos Mler If Dada, encontra agora na Deolinda o respaldo de placidez e doçura melódica que lhe permite explorar a imponência dos registos mais harmónicos do seu versátil espectro vocal. No mais, Canção ao Lado é um pequeno prodígio: canções brilhantes ("Fado Toninho", "Movimento Perpétuo Associativo" e "Fon-Fon-Fon" são um trio que apetece repetir), uma lógica de subversão do fado tradicional que soma mais do que subtrai e, last but not least, um humorismo disfarçado de arrazoado panfletário que é raro ver-se por estas bandas. Belíssima estreia, sem dúvida.

Posto de escuta MySpace

Sem comentários: