Na maior parte dos casos em que se pousa um CD no leitor sem nada saber sobre ele, o mais natural é dar-se uma de duas coisas: ou sobra a frustração de se descobrir algo com que não nos identificamos minimamente, assim despertando rejeições imediatas, ou, pelo contrário, saímos rendidos à surpresa positiva de perceber empatias instantâneas. A segunda hipótese é perfeitamente válida no debute discográfico de Joe Williams, de quem se descobre, depois do enlevo de desvendar as maravilhas de Smoke, tratar-se de um protagonista norte-americano das órbitas do experimentalismo e do noise que, paulatinamente, recentrou o percurso artístico em trejeitos de pop vivaça, descentrada e dançante. Numa identidade musical que nos envolve no imaginário mais ritmado e orgânico de alguns momentos de Beck ou David Bowie, por exemplo, Smoke é um produto psicadélico (ou colorido demais) e remete para tessituras de volúpia electrónica, música de computador dir-se-ia, com beats intensas, baixo firme e guitarras preguiçosas a insinuarem melodias, com qualquer coisa de funk e de glam rock. Depois, a orgânica das faixas é sobrecarregada de filigranas e maneirismos sintéticos que se confundem e sobrepõem em camadas, cruzando-se com as casualidades acústicas, numa mescla entre retro e vanguarda nem sempre de trato fácil, em razão da agudez de certos instantes, mas coerente na sobrelotação de sons. Um concentrado pop é assim, mesmo que a polpa seja tão espessa que não se lhe tome a integridade de sabor ao primeiro trago. Mas que é suculento, lá isso é...
quarta-feira, 14 de maio de 2008
White Williams - Smoke
Na maior parte dos casos em que se pousa um CD no leitor sem nada saber sobre ele, o mais natural é dar-se uma de duas coisas: ou sobra a frustração de se descobrir algo com que não nos identificamos minimamente, assim despertando rejeições imediatas, ou, pelo contrário, saímos rendidos à surpresa positiva de perceber empatias instantâneas. A segunda hipótese é perfeitamente válida no debute discográfico de Joe Williams, de quem se descobre, depois do enlevo de desvendar as maravilhas de Smoke, tratar-se de um protagonista norte-americano das órbitas do experimentalismo e do noise que, paulatinamente, recentrou o percurso artístico em trejeitos de pop vivaça, descentrada e dançante. Numa identidade musical que nos envolve no imaginário mais ritmado e orgânico de alguns momentos de Beck ou David Bowie, por exemplo, Smoke é um produto psicadélico (ou colorido demais) e remete para tessituras de volúpia electrónica, música de computador dir-se-ia, com beats intensas, baixo firme e guitarras preguiçosas a insinuarem melodias, com qualquer coisa de funk e de glam rock. Depois, a orgânica das faixas é sobrecarregada de filigranas e maneirismos sintéticos que se confundem e sobrepõem em camadas, cruzando-se com as casualidades acústicas, numa mescla entre retro e vanguarda nem sempre de trato fácil, em razão da agudez de certos instantes, mas coerente na sobrelotação de sons. Um concentrado pop é assim, mesmo que a polpa seja tão espessa que não se lhe tome a integridade de sabor ao primeiro trago. Mas que é suculento, lá isso é...
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