sábado, 24 de maio de 2008

She & Him - Volume One




Ela é Zooey Deschanel, actriz americana em firme escalada para a notoriedade em Hollywood (em Junho, vê-la-emos na nova película de M. Night Shyamalan, O Acontecimento, ao lado de Mark Wahlberg) e cantora/compositora acidental. Ele é M. Ward, cantautor canadiano com um interessante percurso a solo e inúmeras colaborações como guitarrista (a mais recente em disco do lendário francês Alain Bashung). Foi o realizador Martin Hynes que os juntos para reverem "When I Get to the Border", de Richard & Linda Thompson, para o filme The Go-Getter, de 2007. A aliança pontual entre ambos desvendaria convergências estéticas e, sobretudo, a empatia de M. Ward pela colecção de canções que Deschanel havia deixado no armário no passado recente. Daí até a dupla formalizar o casamento artístico sob o nome She & Him e, depois, partir para o registo em disco do trabalho de Deschanel foi um pequeno passo. As órbitas estéticas de Volume One apontam a uma toada de luminosidade sessentista, de folk-pop (às vezes country) ligeira, descomprometida e de emoções simples. Musicalmente, a guitarra de M. Ward (ele também produz, com elevação, o disco) e, em suporte, a bateria de Rachel Blumberg (Decemberists) e o violino de Tom Hagerman (Devotchka), mais os arranjos esporádicos que enchem as canções, dão à voz felpuda de Deschanel (uma mescla espessa de Joan Baez, Dusty Springfield e Loretta Lynn) o revestimento certo. E o disco acorda memórias esquecidas da canção "clássica" dos 60's, chamando a candura e a elegância de então, com ênfase particular na melodia sem segredos ou labirintos e na autenticidade da nostalgia. A dada altura, o canto ecoante de Deschanel e a orgânica retro das canções quase fazem esquecer o nosso lugar no calendário e, ao invés de parecerem um fruto contemporâneo, mais se impõem como uma preciosa antiguidade forjada noutro tempo. E, nesse sentimento anacrónico, o disco é triunfante. Pena é que algumas composições percam a oportunidade de capitalizar sobre esse efeito, ao deslizarem para uma previsibilidade que também desfeiteia a excelência da produção. Em todo o caso, os nutrientes "clássicos" de Volume One são motivos mais do que suficientes para tornar a sua audição uma experiência fértil e provar que a improvável dupla She & Him tem, afinal, pé para andar.

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