sábado, 17 de maio de 2008

Jamie Lidell - Jim




Longe do passado de vizinhanças electrónicas, onde ganhou notoriedade sendo metade dos Super Collider (com o chileno Christian Vogel, hoje nos Night of the Brain), o britânico Jamie Lidell encetou um percurso individual devoto à música soul. Consagrado pela crítica em 2005, com o muito referenciado Multiply - álbum que convocava substâncias tradicionais do cancioneiro soul e lhes emprestava o furor vanguardista de electrónicas ligeiras e da experimentação - Lidell regressa, no novo disco, aos mesmos padrões estéticos. Jim é, assim, um documento que repesca a natureza ambivalente do antecessor: é capaz de revelar um anacronismo mágico, reportando-nos ao ideário clássico da soul (leia-se Motown), e, em simultâneo, trazê-lo arrumado num som fresco, vivo, acessível e moderno. Nesse particular, faz-se notar a aposta num registo mais directo, dir-se-ia poppy, o que se traduz num menor investimento na experimentação e no sublinhado das melodias amigas do ouvido. Se isso pode ser pretexto para alguns verem Jim como produto de cedências ou, a outro nível, como mero conjunto de citações a referências de Lidell, não é menos verdade que se trata de um disco sólido, bem escrito e produzido e com um punhado de hits imediatos ("Another Day", "Out of My System" ou "All I Wanna Do"). E essa é a melhor homenagem que Lidell podia deixar aos ícones da soul negra, de Sam Cooke a Al Green, de Bobbie Womack a Curtis Mayfield, de Otis Redding a Percy Sledge, de Sly Stone a James Brown, de Marvin Gaye a Stevie Wonder. Jim é, por isso, uma confidência pessoal e íntima de Lidell e que apetece ouvir com a mesma paixão com que foi erguida.

Sem comentários: