Com o tirocínio feito em dois momentos discográficos que os atiraram para a primeira linha da nova geração pop nacional, os portuenses Mesa chegam ao terceiro título, não só aproveitando os planos de estilo que fizeram a sua identidade antes, mas sobretudo dando provas de não se limitarem a passagens conformistas por esse património, reinventando-o e somando-lhe outras valências. Dessa diversidade técnica notória nos dois discos prévios e prosseguida neste Para Todo o Mal, sobra um fôlego experimentalista com duas vias: uma vontade de expor as medidas convencionais dos mais simples ideários de canção pop a derivas pontuais por outros padrões estéticos (o jazz, o rock ou a electrónica) ou, em momentos de maior ambição, a uma saudável "confusão" de proporções entre a matéria dominante (o corpo pop, pois claro), as influências estruturais e as imensas especiarias orgânicas invocadas. Fruto dessa dualidade genética dos Mesa, entre o convencional e o especulativo, Para Todo o Mal encaixa melhor na segunda definição, no sentido de ser um disco, quando comparado com os antecessores, de espaços curtos para a previsibilidade ou o padrão e que procura os ângulos incertos da experiência. Até a voz de Mónica Ferraz se expõe - sem mácula, diga-se - a outros riscos e manobras, sublinhando, também aí, a frescura das canções e de um alinhamento que conhece duas metades, separadas por um trecho de ambientes instrumentais ("Biombo"). A primeira, mais nervosa, onde pontificam composições próximas do molde que nos habituámos a escutar nos Mesa e duas aventuras (o rock pendular de "Estrela Carente" e a electrónica empolada de "Munição"), e a segunda, mais romântica e introspectiva (pode dizer-se minimalista e despojada?), com o debute baladeiro da banda ("Boca do Mundo") e curiosas surpresas de pulsação mais baixa. Em todo o caso, nem a largura estética do disco, nem o eclectismo do cardápio chegam para mascarar a modéstia de grande parte das composições que, a despeito da riqueza estrutural, se ficam por uma mediania satisfatória, é certo, mas aquém daquilo que podia esperar-se da evolução dos Mesa.
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